Título: Mercado espera novo aperto monetário
Autor: SILVIA ARAÚJO
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Economia, p. A18

A economia brasileira deverá passar por uma nova rodada de aperto monetário nesta semana, após a conclusão da segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira. Pelo menos é o que espera a maioria dos analistas, após a leitura da ata da reunião do mês passado. No documento, os diretores do Banco Central foram claros e objetivos, conforme disseram os especialistas. Em uma ata em que não mandou recados e, sim, fez advertências, o Copom avisou que o aperto monetário pode aumentar e se prolongar caso a convergência das expectativas de inflação para os 5,1% seja muito lenta. Um mês após decidir informar ao mercado suas pretensões em relação a Selic, o colegiado do BC volta a verificar, pouco antes da nova reunião, que as expectativas para a inflação não cederam. O último relatório elaborado pela autoridade monetária junto a instituições financeiras apontou que, na média, os analistas esperam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo encerre 2005 em 5,75%.

A determinação do Copom na convergência das expectativas de inflação para os 5,1% fez alguns analistas levantarem a hipótese de que, internamente, o BC estaria trabalhando com esse percentual como um teto para a meta deste ano. Se isso for verdade, diz um analista, pode-se esperar juro alto até setembro.

Uma sondagem realizada pela InvestNews com 21 instituições financeiras mostrou que 19 estimam aumento de 0,50 ponto para o juro e apenas duas projetam alta de 0,25 ponto. Os que estimam um ajuste um pouco mais moderado defendem sua projeção a partir do menor ritmo de expansão da atividade industrial. Embora os pedidos em carteira para financiamentos por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já totalizem R$ 25 bilhões, o ritmo da atividade da indústria como um todo é que vai determinar a efetivação dos desembolsos do banco.

Quem depende de crédito Os representantes de empresas de menor porte lembram que no caso dessa categoria, o empresário tem que recorrer às linhas de crédito oferecidas pelos bancos, cujas taxas são mais altas do que as do BNDES que geralmente são corrigidos pela TJLP (9,75% ao ano). Segundo dados do BC, em dezembro, a taxa média de juros cobrada para os empréstimos de pessoa jurídica era de 31%.

Outra comparação As taxas de empréstimo prefixadas para capital de giro, com prazo de 31 dias corridos e 21 dias úteis, cobradas para grandes e pequenas empresa revelam uma distância ainda maior para o acesso ao crédito por parte das menores. Para as grandes, os juros cobrados pelos bancos estão entre 23,65% e 66,50% ao ano. Já as pequenas e médias pagam taxas que variam de 31,37% a 108,16% ao ano.

Ponto de partida O ponto de partida para a inflação de 2005, considera como meta pelo Banco Central, será dado hoje, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro. Pelo mercado, as estimativas apontam para 0,6%, contra 0,86% da inflação de dezembro do ano passado. A autoridade monetária quer chegar ao final do ano com inflação de 5,1%.

Quem é o estrangeiro? Que recursos do exterior estão entrando no mercado de ações não há dúvidas, segundo alguns analistas, a questão que surge no mercado, no entanto, é que boa parte desses recursos seria de brasileiros residentes no exterior e não só de investidores estrangeiros ''natos'' que estão apostando no país. O assunto ganhou as mesas de operações, principalmente, com o aumento do volume financeiro contabilizado pela Bovespa nos últimos dias. Só na sexta-feira foram R$ 2,5 bilhões em negócios.

Salário em baixa Na próxima sexta-feira, a revista Supermercado Moderno vai publicar uma pesquisa encomendada pelo setor varejista a Hay Group onde constata que os salários pagos no setor são os mais baixos do mercado de trabalho.