Título: Ministério da Defesa reconhece ter recebido ajuda dos EUA
Autor: Raposo, Fred; Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 04/07/2008, Internacional, p. A21
O ministério da Defesa colombiana reconheceu ter recebido ajuda dos Estados Unidos no resgate dos reféns das Farc, embora tenha reiterado que a operação foi plenamente arquitetada e realizada pela Colômbia.
¿ Pedimos ao embaixador americano em Bogotá, William Brownfield, que nos auxiliasse a colocar à prova as teorias que tinhamos e eles nos ajudaram um pouco a calibrar certas coisas, mas de forma bem superficial ¿ disse o ministro de Defensa Juan Manuel Santos.
Segundo o ministro, existia ainda uma promessa do presidente colombiano Álvaro Uribe de contar ao presidente George Bush sobre qualquer tipo de operação para resgatar os reféns.
O subsecretário de Estado dos EUA, Thomas Shanon, ressaltou que não podia entrar em detalhes, mas que é "importante entender que esta foi uma operação colombiana, ou seja, concebida pelos colombiano e implementada por colombianos, e o nosso papel foi mais que nada de apoio em aspectos operativos".
Ingrid Betancourt passou a primeira noite após a libertação em claro, contando para a família os detalhes de seu triste cativeiro.
Segundo Ingrid, o cabo do Exército colombiano William Pérez, soldado profissional com conhecimentos básicos de enfermaria que trabalhou num hospital militar de Bogotá, virou o anjo da guarda dos companheiros de cativeiro e salvou sua vida:
¿ Ele foi meu enfermeiro em momentos em que estive muito mal de saúde ¿ disse.
Pérez, visivelmente enfermo, narrou que Ingrid ficou consumida em tal estado de depressão, que seus braços se imobilizaram e por um momento perdeu a consciência:
¿ Ela estava muito debilitada e teve de tomar muito soro porque tudo que comia vomitava. Ela não tinha ânimo para caminhar.
Questionada sobre as condições da detenção, a ex-refém assegurou que foi tratada "como um cão".
¿ Nem sequer era um tratamento para um animal ¿ afirmou, antes de contar que só havia crueldade, arbitrariedade e maldade.
Ingrid também disse que durante seu cativeiro tinha espasmos de ódio contra seus seqüestradores e o pensamento de suicídio era constante. Ela só não tirou a própria vida porque as mensagens de rádio da mãe, Yolanda Pulecio, traziam a esperança de que pudesse reencontrar seus filhos.
Questionada sobre seu atual estado de saúde, Ingrid respondeu:
¿ Estou em plena forma. Em liberdade não há cansaço algum.
O resgate dos militares ratifica os problemas de comunicação dos líderes das Farc, por medo de bombardeios. Isso levou o guerrilheiro César, detido na operação, a confiar plenamente na versão dos infiltrados por não ter como averiguá-la.
O nome real de César é Gerardo Antonio Aguilar, de 49 anos. As autoridades o qualificavam como o autêntico carcereiro do grupo subversivo e consideram que tinha um papel mais relevante que de Martín Sombra, também capturado.
César foi quem ordenou a entrega de Emmanuel, filho de Clara Rojas, ao campesino José Crisanto Gómez e manejava a rede das Farc que troca drogas por amas, aparelhos de comunicação e remédios.