Título: Ministro lembra Cacciola e admite que pode haver fuga
Autor: Quadros, Vasconcelos
Fonte: Jornal do Brasil, 12/07/2008, Tema do dia, p. A2
O ministro da Justiça, Tarso Genro, admitiu, ontem, que o banqueiro Daniel Dantas poderia deixar o país, como fez o italiano Salvatore Cacciola ¿ alvo atualmente de um pedido de extradição.
¿ A possibilidade de fuga realmente existe" ¿ disse Genro.
Para o ministro, um habeas corpus com restrição para permanência em território nacional evitaria a saída de Dantas do Brasil.
¿ Como ele diz que é inocente e que vai provar sua inocência, não acredito que vá fugir ¿ ponderou.
Genro esteve em São Paulo no fim da tarde para assinar com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) convênio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
Duelo jurídico
O ministro encarou com "normalidade"" a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de mandar soltar Dantas pela segunda vez, anulando a prisão preventiva decretada pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
¿ É uma disputa de avaliações jurídicas"", avaliou.
Segundo Genro, a concessão de novo habeas corpus não fragiliza as acusações.
¿ Não há juízo sobre a eficácia da prova ¿ argumentou. ¿ A fundamentação está muito bem feita. A Procuradoria já se manifestou e haverá seguramente a denúncia que será acolhida pelo Judiciário.
Genro rejeitou a alegação de Dantas, de que sua prisão teria motivação política.
¿ É natural que o réu invoque conotação política, mas isso é vazio, até porque o réu diz que tem relações com todo mundo, com todos os partidos, e não são relações necessariamente criminosas ¿ afirmou.
Durante o dia, o ministro tentou pôr panos quentes na rixa entre De Sanctis e Mendes. Telefonou a ambos e garantiu que o gabinete de Mendes não foi monitorado pela PF.
¿ Essa informação eu atribuo a alguém que queira jogar querosene na fogueira ¿ afirmou.
O ministro voltou a defender a ação da PF na Operação Satiagraha.
¿ O trabalho da Polícia Federal foi muito bem sucedido ¿ analisou.
Genro comentou sobre outras ações deflagradas pela Polícia Federal ontem, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e Alagoas.
¿ Isso é saudável para o país, pois mostra que há uma ação policial coordenada, pelo Ministério Público, pelo Poder Judiciário, respeitando o direito das pessoas, mas numa pesada luta contra a corrupção e o crime organizado.
Em relação à controvérsia em torno do uso de algemas durante a operação Satiagraha, o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, disse que o método será mantido, sem modificações nem flexibilizações.
¿ Vale para todo mundo independentemente da classe social ¿ salientou. ¿ O uso das algemas é um ato de administração pública. Para evitar a injustiça, nós temos uma regra que vale para todos. Não posso flexibilizar seu uso. Não temos duas categorias de cidadãos.