Título: Pouca mediação do Brasilé bem vista em Bogotá
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 18/07/2008, Internacional, p. A21

Se a ausência de mediação direta de Lula na negociação com as Farc foi criticada por ex-reféns da guerrilha e ecoada pela mídia brasileira, em Bogotá a posição é elogiada. Depois de meses de intervenções fracassadas do venezuelano Hugo Chávez, do francês Nicolas Sarkozy e de dezenas de enviados europeus, os colombianos não querem ouvir falar em mediação. A gota d" água foi a exitosa operação de resgate do Exército que mostrou ao mundo ser capaz de lidar com o problema que é seu.

A ex-refém Clara Rojas, libertada em janeiro, abriu o rol de críticas:

¿ Lula fez pouco. O Brasil poderia adotar medidas mais efetivas no conflito, sempre que houvesse uma maior aproximação militar e política. É preciso militarizar as fronteiras.

Com este ponto concorda o analista Roger Restrepo, ao dizer que "o problema guerrilheiro não respeita fronteiras nacionais":

¿ O esforço para combater as gangues do narcotráfico é mais efetiva se for conjunta. Além disso, não se pode negar que os Supertucanos brasileiros que fortaleceram as Forças Aéreas colombianas tornaram-se fundamentais na ação antidrogas.

Equilíbrio

Em seguida, foi a vez de Ingrid dizer, de forma sutil, que Lula pode fazer muito pela paz "se alcançar um denominador comum entre Colômbia, Venezuela e Equador".

¿ Lula é de esquerda, como eu, e creio que seu papel é determinante para conseguir que Chávez e Uribe dialoguem de forma produtiva.

Por fim, o ex-senador colombiano Luis Eladio Pérez, que esteve seqüestrado por mais de sete anos e se mudou para Miami, invocou novamente o presidente brasileiro:

¿ Chávez está desgastado, Correa, também. Resta Lula.

Restrepo, porém, pondera que a percepção que se tem na Colômbia é que os mediadores defendem interesses particulares:

¿ O Equador se preocupa com a invasão fronteiriça, a França tinha como meta libertar Ingrid e os EUA só pensam em erradicar as drogas. Não faz falta que Lula intervenha. Ele sabe que é difícil construir uma liderança regional com intervenção.

O embaixador do Brasil na Colômbia, Júlio César Gomes dos Santos, é taxativo ao dizer que "o resgate de reféns é competência do governo colombiano":

¿ O Brasil sempre se dispôs a ajudar, mas desde que Uribe o chame. A idéia de que o Brasil fez pouco ignora os princípios de soberania e competência. O fato de nos verem como equilibrados não significa que o governo nos veja como tal. Não se impõe como mediador quando não se é convidado.

O diplomata conta que o governo colombiano optou por mudar de caminho e cortar as mediações desde que se "gerou a sensibilidade muito clara que se estava perdendo poder sobre uma alçada nacional". (C.A.)