Título: Em alerta, Colômbia recebe Lula
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 18/07/2008, Internacional, p. A21

Multidões em festejo de independência e marchas contra seqüestro facilitariam ação das Farc.

Duas semanas após o histórico resgate militar de 15 ex-reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a Colômbia que o presidente Lula visita hoje respira confiança, mas não nega o clima de alerta geral. Teme-se que, mesmo enfraquecidas, as Farc protagonizem um atentado que procure ser tão espetacular quanto o golpe sofrido.

De uma perspectiva terrorista, a circunstância é propícia. No domingo, cerimônias marcarão o aniversário de 198 anos da independência da Colômbia, junto a uma série de passeatas pelo fim do seqüestro que se multiplicarão pelo país. De uma perspectiva analítica, no entanto, especialistas apostam que o custo de desenterrar mega-atentados contra civis seria um retrocesso que sepultaria a já fraca imagem das Farc, hoje com 2% de popularidade.

A própria Ingrid Betancourt, que por seis anos esteve em contato com os guerrilheiros, pregou que a concentração de multidões facilita a infiltração guerrilheira. Nos dias que se seguiram a seu resgate, soldados apreenderam dezenas de bolsas com explosivos a 25 km de Bogotá, que segundo o Exército seriam utilizados em represália ao resgate.

As apreensões são "reflexo de um esquema de segurança reforçado nos bastidores, mas pouco visível ao cidadão", descreve Jhon Torres, editor do Justicia, caderno de segurança pública do jornal El Tiempo:

¿ Desde a libertação de Ingrid, aumentou-se o controle dos acessos às grandes áreas urbanas. Não se pode dizer que o país esteja militarizado, mas hoje há maior fiscalizção nas estradas que ligam os redutos guerrilheiros às cidades e sobre a venda de material explosivo.

Comunicado da Presidência da Colômbia alertou ontem que "por medida de segurança com vistas à visita de Lula, a mobilidade dentro de Bogotá ficará restrita". O assessor de segurança do governo, Wilson Baquero, confirmou ao JB que o trajeto de Lula terá revista reforçada.

Baquero reconhece o alarme, mas não fala em ameaças pontuais:

¿ O dispositivo de segurança em marcha é grande porque não podemos descartar o despertar de ataques revanchistas por parte das Farc, dado os últimos golpes que lhes temos imposto. Elas se valem do terrorismo porque á não têm poder de enfrentar nossos militares.

Baquero conta que o governo chega a encontrar até 375 quilos de explosivos em apenas um dia.

Cotidiano que o analista Roger Restrepo, do Centro de Recursos e Análises de Conflito, usa para descrever a confiança da política de segurança de Álvaro Uribe:

¿ Hoje, a identificação de explosivos e desmantelamento de complôs já não chega nem perto do pânico que geravam no passado porque a política de segurança democrática tem se mostrado exitosa. É uma percepção sustentada que vem se formando com os anos Uribe.

O analista de conflitos Teofilo Vasquez sublinha que as Farc "perderam a capacidade de manter uma ação sistemática e continuada". Mas alerta:

¿ Neste caso, só cabem ataques terroristas de magnitude.

O embaixador do Brasil na Colômbia, Júlio César Gomes dos Santos, constata que "ataques a instalações de energia e de transporte seguem sendo comuns":

¿ Mas fazer atentados contra civis em grandes centros urbanos seria quebrar com a atual circunstância.

Sem temer um ataque revanchista das Farc contra Uribe, que poderia comprometer Lula, o diplomata descreve o isolamento da cidade de Leticia ¿ zona conhecida como trapézio amazônico, no encontro das fronteiras da Colômbia, Brasil e Peru ¿ onde os presidentes integrarão o palanque dos festejos pela independência, domingo.

¿ A cidade não tem acesso por terra a grandes cidades. Chega-se por rio ou avião. Trata-se de uma região de selva amazônica, de difícil acesso até para grupos guerrilheiros.

Enquanto isso, a retaguarda de segurança divide espaço com o clima de euforia pelas libertações e o aniversário da independência. Camisetas alegóricas e bandeiras nacionais são vendidas a cada esquina.