Título: No Congresso, MST busca apoio de governistas
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2008, Tema do Dia, p. A2

Para lidar com o cerco cada vez mais apertado, Sérgio Sauer, pesquisador da Universidade de Brasília, sugere que o MST reforce os laços com parlamentares, membros do Poder Executivo e outras entidades organizadas da sociedade. No início do mês, o movimento deu uma pequena demonstração de que já está fazendo isso.

Na esteira da ação do MP-RS, a Comissão de Legislação Participativa da Câmara promoveu no início do mês audiência pública para debater a criminalização de movimentos sociais. Figuras de peso do Congresso Nacional compareceram para prestar solidariedade à entidade.

¿ Parece que há setores do Estado saudosos de práticas anti-democráticas ¿ disse a senadora e ex-ministra Marina Silva (PT-AC), se referindo ao MP-RS. ¿ É um desrespeito ao direito de organização e manifestação conquistado na Constituição de 1988.

Outro senador de prestígio, Eduardo Suplicy (PT-SP) também criticou a atuação da Justiça e sugeriu aos procuradores do MP-RS que procurassem "conviver mais com os trabalhadores rurais para compreendê-los melhor".

O líder do PT na Câmara, Maurício Rands, também fez questão de dar uma passada na comissão.

¿ A bancada do PT está profundamente preocupada com manifestações de parcelas do Estado brasileiro ¿ declarou. ¿ A ação movida pelo MP-RS é algo que atinge a todos nós. Aqueles que tem qualquer compromisso democrático não podem ficar inertes diante do avanço da tolerância.

Outros apoios

Representantes de outras entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, também defendem o MST. Assim como o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo de Tarso Vannuchi, que chegou a sugerir que a ação do MP-RS pudesse ser uma tentativa do governo do Rio Grande do Sul de desviar a atenção das denúncias de corrupção que assolaram a gestão da governadora Yeda Crusius (PSDB).

O apoio manifestado na audiência foi uma demonstração de que parlamentares e entidades que guardam simpatia pelo MST já sentem a temperatura subir. De um lado, o movimento garante que continuará promovendo atos dentro da nova estratégia. De outro, o governo continua apostando alto no agronegócio e a Justiça, impulsionada pelas ações movidas pelas empresas alvo deste atos, dá sinais de recrudescimento. Todos os ingredientes de uma combinação explosiva.

O diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da empresa, Walter Cover, chamou a atenção para este ponto:

¿ É importante observar a seqüência de ações que temos sido vítimas ¿ argumentou. - E isso não é um histórico longo, é recente. A gente se pergunta: qual o próximo passo?

O professor Sérgio Sauer, da Universidade de Brasília, responde com certo tom de receio.

¿ A sensação que me dá é que vão aumentar tanto as ações de ocupações e reivindicações quanto as ações de perseguição e criminalização por parte do Estado. A tendência é de acirramento dos ânimos. (R.B.)