Título: Imperialismo e neoliberalismo são tratados como inimigos
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2008, Tema do Dia, p. A2

As novas bandeiras do MST ficam claras ao se observar os documentos produzidos pelo movimento. Nas declarações finais dos congressos e encontros nacionais promovidos pelo MST, por exemplo, a luta contra o latifúndio improdutivo perdeu o espaço central que ocupava.

Em 2000, a declaração final do 4º Congresso Nacional do MST apontava como primeira diretriz "intensificar a organização dos pobres para fazer lutas massivas em prol da reforma agrária". As outras três seguintes também estavam relacionadas à luta no campo contra o latifúndio. Somente na oitava resolução o movimento traçava como objetivo a promoção de "ações contra o imperialismo".

No ano passado, no 5º Congresso Nacional da entidade, as preocupações principais da organização já eram outras. A primeira resolução fala em "construir um projeto popular que enfrente o neoliberalismo e o imperialismo", a segunda em "defesa contra políticas de retiradas de direitos" e a terceira em "lutar contra privatizações, a transposição do rio São Francisco e pela reestatização de empresas privatizadas".

Latifúndios

Só na quarta resolução a referência à "luta pela desapropriação dos latifúndios" surge. Mesmo assim, acompanhada do complemento "prioritariamente as propriedades do capital estrangeiro e dos bancos". A sexta diretriz ainda fala em "combater empresas transnacionais que querem controlar as sementes, a produção e o comércio agrícola brasileiro", como Monsanto, Cargill, Nestlé, Bayer e Aracruz, cita o documento.

As novas prioridades, contudo, não passaram despercebidas. Em 2006, a Vale comandou em sua sede uma reunião com outras empresas que vinham sendo alvo de protestos do MST para discutir que linhas de atuação poderiam ser tomadas. Estiverem presentes, além da própria Vale, representantes de grupos como a Aracruz, Alcoa e Tractabel e Bunge.

As ações ousadas do movimento também despertaram a atenção da Justiça. Hoje o MST enfrenta uma montanha de processos e liminares contra sua organização e dirigentes. Na mais incisiva delas, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) aprovou em junho relatório que pedia a dissolução do MST, a responsabilização criminal de seus líderes, intervenção nas escolas administradas pelo movimento e até mesmo restrições eleitorais aos seus militantes. (R. B.)