Título: ''Queremos trabalho preventivo''
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 14/02/2005, Brasília, p. D3

Entrevista / Daniel Sampaio

O novo superintendente da Polícia Federal do DF, Daniel Sampaio, corresponde à fama dos mineiros. É um homem que fala pouco e, ¿devagarinho, vai comendo pelas beiradas¿. Sampaio é visto dentro da PF como um delegado pouco político, mas de muita ação. Foi colocado à frente da Superintendência do DF justamente para que ela tenha um ritmo mais operacional. Casado e pai de uma adolescente, Sampaio está na PF há 28 anos. Tinha 22 quando virou agente da PF. Uma década depois, chegou a delegado. Atuou em Recife (PE) e Brasília. Agora, deixa a chefia do Comando de Operações Tática ¿ o exército de combate da PF ¿ para chefiar a Superintendência conhecida como uma das mais política do País

- Há uma expectativa muito grande de que o novo superintendente insira um ritmo mais operacional no DF. O senhor tem essa característica. Então, o que significa Daniel Sampaio à frente da Superintendência da PF no DF?

- A SRDF (Superintendência da PF/DF) sempre foi conhecida como uma SR (superintendência) bem administrada, uma SR colocada politicamente dentro de um contexto viável. Como minha característica é exatamente operacional, uma vez que ajudei a criar o Comando de Operações Tática (COT), que é um órgão eminentemente operacional, é essa a característica que a direção da PF quer implementar nessa SR, a partir desse momento. E já começamos. Determinamos que nossos órgãos de inteligência mapeasse as necessidades de nossa circunscrição, que é todo o DF mais 35 municípios de Goiás e quatro de Minas Gerais.

- Trocando em miúdos, o que o senhor quer dizer com mais operacional? É prender bandidos, apreender droga...

- Seria desencadear operações, acordos e intercâmbios com as policias civis e militar de Minas, Goiás e do DF, para que haja uma participação mais efetiva da PF no sistema de segurança pública. Estamos ingressando nos Gabinetes de Gestão Integrada (GCI), atendendo o projeto do governo federal de intensificar a segurança pública no País.

- Na sua visão, onde o DF e região do Entorno são mais vulneráveis ao crime - narcotráfico, tráfico de armas, grilagem?

- Agente sabe que o tráfico de drogas está em todos os locais, e junto com o tráfico de drogas vem o problema do armamento. E vem também os crimes de morte. É um ambiente bastante unido. Ao mesmo tempo também temos a lavagem do dinheiro, que vem em torno do crime organizado. Essa região tem a existência de todos esses tipos de crime. Vamos voltar nossa ação para o combate a criminalidade, qualquer que seja ela. Não vamos ficar escolhendo, dizendo: esse crime é da competência estadual, esse é da federal.

- Então, o crime organizado se instaurou no DF e Entorno?

- Não temos elementos que possibilitem afirmar que o crime organizada está instalado nessa região. Estamos com a inteligência trabalhando para plotar quais são nossas necessidades.

- Além do mapeamento anunciado, a PF pode interferir na segurança pública como?

- De todas as maneiras. Operacionalmente, com homens e equipamentos. E trabalhar em conjunto com as polícias civis e militar. As três polícias (Federal, Civil e Militar) vem trabalhando há bastante tempo nessa situação, com certeza todas as polícias têm suas informações. Com a instalação do GCI, vamos dar um tratamento a essas informações. Vamos unir o conhecimento de todas as polícias e traçar um trabalho integrado para deixar o crime num nível razoável, não que os índices sejam altos. O que buscamos fazer é um trabalho preventivo, para evitar que aqui se instale aqui essa criminalidade. Nosso trabalho é praticamente preventivo.

- Vamos falar sobre grilagem de terra. A PF vinha trabalhando nesse sentindo nos últimos anos. Chegou a prender um deputado distrital. No ano passado, uma operação foi anunciada, mas cancelada na última hora. E agora, a PF pretende aprofundar investigações nessa área?

- A PF vai agir, qualquer que seja o crime. A PF é uma polícia, como o próprio Ministro da Justiça (Márcio Thomaz Bastos) diz, é uma polícia de Estado, e não política. Nossas operações não são pautadas em função da política partidária. Mas sim pela técnica. Se nossas operações tiveram que ser realizadas, elas serão. E, já vou contestar, a operação que foi cancelada - apesar de não ser na minha época - não foi por ingerência política, e sim por questão técnica, com certeza.

- A polícia do Entorno tem uma situação precária. Em outubro passado, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Jônathas Silva, comparou o Entorno à Baixada Fluminense, dizendo que Brasília está se tornando Copacabana e os municípios do Entorno os morros. O senhor partilha dessa visão, é tão terrível assim?

- É lógico que essa é uma visão alarmista. Tem objetivo de fazer com que o governo federal volte os olhos para a região do Entorno. E talvez seja por conta disso que estamos iniciando esse trabalho preventivo, para não permitir que isso, de fato, se concretize. Na verdade, é uma visão futurista dele. Se não forem tomadas algumas decisões, pode a vir se concretizar. Essas medidas que estamos iniciando agora, junto com o secretário de Segurança de Goiás e do DF (Athos Costa de Faria) é justamente para não permitir que a situação chegue a esse ponto.

- A polícia brasiliense é apontada como uma das mais bem preparadas do País. Só que, por conta da barreira da jurisdição, é impedida de agir fora do DF, diferente da PF, que não tem esse impedimento. A PF está bem equipada? tem quantos homens para agir em toda essa região? Afinal, são 39 municípios mais o DF.

- A quantidade de pessoal é sempre uma carência de todas as polícias. Mas, por conta de resolver o problema da Polícia Civil do DF, foi criado o Conselho de Segurança do Entorno que vai congregar um acordo entre as polícias do DF, Minas e Goiás. E vai possibilitar esse trabalho integrado.

- Mapear o crime no Entorno vai ajudar a diminuir os índices de criminalidade? E quem será mais beneficiado, DF ou Entorno?

- O benefício será comum a todo mundo, uma vez que boa parte dos crimes ocorridos nas cidades do Entorno vem para dentro da estatísticas que vem para dentro DF. E mapear a ocorrência de crime, na realidade, significa se preparar e fazer uma diagnose da situação, para preparar as operações necessárias para resolver o problema

- A PF vai focalizar sua ação onde?

- Naquelas área que é de sua circunscrição. Onde for necessário, nós iremos.