Título: Mundo pede liberdade para reféns
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/07/2008, Internacional, p. A21

Manifestações uniram mais de 1 milhão de pessoas e pediram fim dos seqüestros na Colômbia.

Mais de 1,5 milhão de pessoas em várias capitais do mundo uniram-se ontem num pedido para que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e os demais grupos criminosos libertem os mais de 3 mil seqüestrados no país e que deponham as armas. O principal palco da manifestação foi a Colômbia, que ontem comemorava o Dia da Independência, mas a presença da ex-refém Ingrid Betancourt no show pela liberdade, em Paris, também ganhou destaque.

Emocionada, a ex-candidata à Presidência cantou o hino colombiano, antes de pegar o microfone:

¿ Bom dia, Colômbia ¿ disse, em espanhol, de mãos dadas com os astros da música de seu país, Juanes e Miguel Bosé, e de outros artistas que estiveram na manifestação organizada pela Federação Internacional de Comitês Ingrid Betancourt e pela prefeitura de Paris.

Em frente às 8 mil pessoas que participaram do ato, a ex-refém agradeceu o empenho pela sua libertação e pediu força àqueles que continuam em cativeiro na selva.

¿ É por amor que estamos todos aqui, unidos em uma só idéia: liberdade ¿ discursou, e puxou o coro de "chega de seqüestros".

E fez um apelo direto ao chefe das Farc, Alfonso Cano:

¿ Veja esta Colômbia, veja a mão estendida do presidente Álvaro Uribe. Entenda que já não é mais hora de derramar sangue.

Em Bogotá, desde cedo as principais ruas ficaram lotadas de pessoas com camisas brancas com inscrições como "Liberdade já", "Chega de seqüestrados" e "Paz para a Colômbia".

A ministra da Cultura, Paula Moreno, afirmou que o Grande Concerto, como foi denominada a iniciativa de fazer shows em todos os municípios da Colômbia, foi um sucesso, com a participação de mais de 1 milhão de pessoas em pelo menos 1.102 cidades do país.

No sábado, alguns atos contra as guerrilhas já haviam sido realizados em Londres, Madri e Lima. Na capital peruana, o protesto foi liderado pelo presidente, Alan García, que andou pelas ruas envolto na bandeira da Colômbia.

As passeatas de ontem impõem mais pressão às Farc, que sofreram duros golpes recentemente como resultado da ofensiva militar do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Uribe é visto como herói por muitos colombianos por adotar uma política de enfrentamento contra os rebeldes, ativos desde 1960. Depois de 2 de julho, quando a operação militar "Xeque" deu liberdade a Ingrid e a outros 14 reféns ¿ incluindo três americanos ¿ "sem o disparo de nenhum tiro", como o governo gosta de frisar, sua popularidade alcançou expressivos 90%.

Nos últimos 12 anos, 23.854 pessoas foram seqüestradas na Colômbia, das quais 2.800 permanecem em cativeiro das Farc. Entre os mais "valiosos" estão três políticos e 22 integrantes das forças de segurança, que a guerrilha pretende trocar por prisioneiros.

A manifestação de ontem foi a terceira do tipo realizada este ano na Colômbia. E no exterior, elas aconteceram em 30 cidades da América Latina, 22 na Europa, seis na Ásia, duas na Oceania, além de 27 nos Estados Unidos e quatro no Canadá, informou a ONG Colombia Soy Yo, em seu site.

Olga Lucía Gómez, diretora da Fundação País Livre, que trabalha com as vítimas de seqüestro e foi uma das organizadores da jornada "Liberdade Já", declarou-se muito satisfeita com a massiva participação pelo mundo. Olga afirmou que o propósito da marcha era tornar visível o drama não apenas dos reféns das Farc, mas os 200 mantidos em cativeiro por outras grupos armados colombianos.