Título: Partidos aprendem com o exterior
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 20/07/2008, País, p. A15

PDT e DEM buscam conhecimento e experiência para atuar no mundo político brasileiro.

BRASÍLIA

Liderados pelo PDT e DEM, partidos brasileiros apostam cada vez mais nos vínculos com legendas de ideologia semelhante de outros países. Reforço dos laços com partidos que estão se dando bem no exterior é visto como forma de apreender com experiências externas para crescer internamente.

O presidente do PDT, deputado Vieira da Cunha (RS), foi eleito no final de junho um dos vice-presidentes da Internacional Socialista (IS), a maior organização mundial de partidos políticos. Fundada, nos moldes atuais, na década de 1950, a Internacional tem mais de 170 membros plenos, entre eles algumas das mais renomadas agremiações partidárias do planeta, como o Partido Trabalhista britânico, os partidos sociais-democratas alemão e sueco, e os partidos socialistas francês, espanhol, português, belga e chileno, além do Partido da Revolução Democrática, do México.

A história do PDT sempre esteve ligada à IS. Quando os principais líderes trabalhistas brasileiros, inclusive Leonel Brizola, viviam no exílio fugitivos do regime militar, eram os partidos da entidade que os acolhiam na Europa. Foi nos corredores do Partido Socialista de Portugal, inclusive, que o PDT começou a ser montado, na esteira da abertura política da ditadura no final da década de 1970.

O punho e a rosa

A identidade com a organização de centro-esquerda mundial foi tanta que o símbolo escolhido pelo PDT para o representar foi justamente o mesmo da ISa: o punho fechado segurando uma rosa.

¿ Nós consideramos muito importante fazer parte desta organização ¿ diz Vieira da Cunha. ¿ São os princípios que nos unem, as afinidades de projetos entre o PDT e nossos partidos co-irmãos.

A harmonia, contudo, não é completa. Alguns anos atrás, a Internacional se dividiu entre aqueles que viam o governo venezuelano de Hugo Chavez como uma experiência positiva e aqueles que o rechaçavam.

No último Congresso, a tensão foi em torno de um dos temas debatidos, a imigração. O PDT e outros partidos da América Latina pressionaram o Partido Socialista Operário Espanhol, do primeiro-ministro José Luís Zapatero, a rever algumas das políticas de restrição aos imigrantes. Embora as resoluções aprovadas no Congresso não precisem ser seguidas à risca pelos partidos membros da Internacional, confrontá-las é sinônimo de constrangimento partidário.

O PDT é atualmente o único partido brasileiro membro pleno da Internacional Socialista. Mas quem é figurinha carimbada dos congressos como observador é o PT. Em 2003, inclusive, quando o congresso da entidade foi realizado no Brasil, foram os petistas, embalados pela eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e não o PDT, que fizeram as vezes de anfitrião.

Naquele ano, o PT conseguiu articular para que outro participante freqüente dos congressos como observador, o rival PSDB, ficasse de fora do evento. A iniciativa foi duramente criticada pelos tucanos. Curiosamente, contudo, o PSDB também aparece como membro observador na lista da Internacional Democrata de Centro, a resposta da centro-direita mundial para a Internacional Socialista.

A CDI (sigla em inglês para Centrist Democrat International) também tem legendas de peso para apresentar. Integram os quadros da organização partidos como a União por um Movimento Popular, do presidente francês Nicolas Sarkozy, a Democracia-Cristã alemã, da chanceler Angela Merkel, o Partido Conservador britânico e o Partido Popular espanhol, do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar.

Apesar dos flertes petistas com a Internacional Socialista, a não entrada do partido como membro pleno é atribuída à divergências internas. Historicamente, algumas tendências da legenda preferiram investir no polêmico Foro de São Paulo.

Já as razões que levaram o PSDB a se manter fora oficialmente tanto da organização de centro-esquerda quanto da de centro-direita, são explicadas pelo secretário de Relações Internacionais do partido, o ex-ministro da Educação e deputado Paulo Renato (SP).

¿ Não há relações mais orgânicas porque o PSDB, pela sua própria concepção, sempre foi um partido muito vinculado à experiência brasileira. E essa realidade é tão rica e complexa que em geral esse relacionamento mais próximo fica difícil ¿ argumenta.

Segundo o tucano, o partido mantém contatos bastante próximas com partidos como os socialistas francês e chileno graças à amizade pessoal de lideres tucanos, principalmente de Fernando Henrique Cardoso, com dirigentes destas legendas.