Título: Delegado diz que milícia financia campanhas
Autor: Sáles, Felipe ; Máiran, Paula; Victal, Rena
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2008, Tema do Dia, p. A2

Para Beltrame, pisão de Natalino não será a última.

O dinheiro arrecadado pela mi- lícia em Campo Grande era utilizado para financiar campanhas eleitorais. A informação foi confirmada ontem pelo titular da 35ª DP (Campo Grande), Marcus Neves. Segundo ele, entre os 14 inquéritos que apuram a atuação da quadrilha liderada pelo vereador Jerominho seu irmão, o deputado Natalino Guimarães na região, há indícios que podem ajudar o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro a atuar e reprimir crimes eleitorais. Apenas este ano, o grupo miliciano arrecadou cerca de R$ 17 milhões. ­ Quando assumi a delegacia, Há cinco meses, a milícia movimentava R$ 4 milhões por mês em Campo Grande, mas com a nossa repressão este valor caiu para R$ 1,8 milhão ­ contabiliza o delegado. ­ Só das Kombis, eles cobram uma taxa diária que varia de R$ 50 a R$ 70. E são milhares de kombis. Isso sem contar o arrecadado com TV a cabo e a venda de gás. Há indícios de que esse dinheiro financie campanhas políticas. É uma informação interessante para o TRE, um juiz eleitoral pode trabalhar com os dados levantados por nós e atuar. O delegado, no entanto, disse não ter como provar que Carminha Jerominho (PMDB), conhecida como Batgirl, e que é candidata a vereadora, usufrua do lucro. ­ Nos inquéritos, ela figura apenas como candidata ao cargo de vereadora. Não há provas. Apesar de assumir que a prisão do deputado Natalino Guimarães (DEM) foi importante, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou ser "temerário dizer que a região está livre de milícias" e que é preciso continuar o trabalho. ­ É emblemática, em tese, a prisão do chefe ­ ressaltou o secretário. ­ Mas existem outras pessoas e outras áreas da cidade que sofrem desse mal. Nenhum trabalho será da importância deste, porque é uma milícia (de Campo Grande) que não se compara a nenhuma outra. Perguntado se a prisão do chefe da quadrilha garantia que qualquer candidato a vereador ou prefeito pudesse fazer sua campanha na favela da Carobinha, que fica na região e que até ontem tinha acesso restringido a poucos candidatos, Beltrame preferiu não alimentar a discussão e repassou a responsabilidade para a Polícia Federal: ­ Não trabalho com horizonte eleitoral. O problema eleitoral não diz respeito à Polícia Civil, mas à Polícia Federal.

Quartel general

Além de ter efetuado a prisão de seis integrantes na casa do deputado Natalino, local classificado pelo delegado da 35ª DP como quartel general da milícia, foram apreendidos documentos que apontam os valores semanais pagos a policiais que integravam a quadrilha. ­ A lista tem 43 nomes de policiais civis, militares e bombeiros ­ revelou Marcos Neves. ­ Os valores semanais pagos variavam de R$ 300 a R$ 1700 por semana. O secretário de segurança garantiu que todos os policiais responderão a um Inquérito Policial Militar e que "com a verdade dos fatos, eles serão punidos de forma exemplar". Beltrame disse ainda que já expulsou da corporação 350 policiais militares. Desse total, cerca de 70 trabalhavam para grupos milicianos. Ele disse ainda ter conhecimento de que o interior do Estado está sendo tomado pelas polícias mineiras. ­ Já se tem a constatação de que há milícia no interior ­ disse Beltrame, sem revelar as cidades que estão sendo investigadas. O secretário também assumiu que o enfraquecimento da milícia em Campo Grande pode abrir espaço para que traficantes tentem tomar o controle de algumas favelas. ­ É um problema que está sujeito a acontecer - confessou Beltrame. ­ Não podemos conviver nem com o tráfico, nem com a milícia.