Título: Delegado linha-dura abdicou de sua família
Autor: Sáles, Felipe ; Máiran, Paula; Victal, Rena
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2008, Tema do Dia, p. A2

Titular da 35ª DP (Campo Gran- de) há cinco meses, o delegado Marcus Antonio Neves Pereira teve de abdicar da família para assumir a missão de combater o grupo de milícias que domina a Zona Oeste. O delegado ­ que já foi primeiro tenente do Corpo de Fuzileiros Navais ­ admite que ainda está longe de extinguir a ação dos grupos, mas assumiu a missão depois de 20 anos de polícia em que, entre outros desafios, prendeu um mega-traficante do Complexo do Alemão foragido no Ceará e, em seguida, prendeu o advogado do bandido que tentou suborná-lo com R$ 50 mil. Na polícia desde 1988, então como detetive, Marcus Neves passou por diversas delegacias especializadas. Em 2000, tornou-se delegado e assumiu várias delegacias do interior do Estado. Há cinco meses, foi convocado pelo Chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, a assumir a 35ª DP com a missão específica de combater as milícias. Para isso, por questões de segurança, teve de se isolar da mulher e do filho. Dia 11 de junho, uma bomba caseira foi jogada na 35ª DP, segundo o delegado, a mando do deputado preso ontem. ­ Sei que o perigo é real, mas tomamos todas as medidas para evitar problemas ­ conta.

Em 2005, tentativa de suborno

Em 2005, então titular da 36ª DP (Santa Cruz), Marcus Neves prendeu o traficante Márcio Batista da Silva, 29, o Dinho Porquinho, chefe do tráfico de favelas de Santa Cruz e Penha, dentre elas o Complexo do Alemão. Dois dias depois da prisão do traficante - que morava numa mansão em Fortaleza, Ceará ­ o advogado do bandido, Laerte Gomes Carvalho, ligou para o delegado oferecendo R$ 50 mil para "relaxar a prisão". Neves fingiu aceitar e prendeu também o advogado.