Título: O primeiro golpe no curral das milícias
Autor: Sáles, Felipe ; Máiran, Paula; Victal, Rena
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2008, Tema do Dia, p. A2

Cabral também pede PF nas eleições após prisão de deputado estadual acusado de liderar grupo criminoso

A campanha eleitoral no Rio virou caso de polícia. Somente uma milícia da Zona Oeste faturou neste ano R$ 17 milhões em negócios criminosos para financiar campanhas de seus candidatos próprios, impostos à força do medo nos seus currais eleitorais. Há centenas desses currais no Rio, controlados pelo tráfico de drogas, por política clientelista e por milícias. Essa realidade enfrentada por cerca de 500 mil eleitores em favelas do Estado foi tema de série de reportagens do JB desde o domingo dia 13 de julho. O primeiro a admitir a gravidade do contexto foi o coordenador de fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Luiz Márcio Victor Alves Pereira: ­

- Trata-se de uma questão de segurança pública ­ afirmou ontem o magistrado, que convocou, no dia 11 de julho, a Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral para agir contra dos donos dos currais.

O governador Sérgio Cabral Filho, de Brasília, anunciou ontem que aceita, sim, a ajuda da PF para garantir no Rio o exercício constitucional do livre ir e vir de candidatos pela cidade. Há pelo menos duas décadas que política e tráfico se tornaram assuntos um tanto quanto mesclados no Rio. Fenômeno mais recente é o das milícias eleitoreiras, surgidas há menos oito anos, segundo a própria polícia. São pelo menos cem as comunidades em que milícias já subtraíram a soberania da população. A prisão, na noite de anteontem, do deputado estadual Natalino Guimarães (DEM) representou golpe e tanto em certo bando miliciano da Zona Oeste, a despeito da ousadia da reação a tiros dos acusados. Nem tudo está perdido, no entanto. Na Zona Sul, Ingrid Gerolimich (PT) pediu e obteve apoio policial para subir à Rocinha a despeito de ameaças. Na Baixada, o TRE fechou ontem centro social inaugurado neste ano de campanha por Chico Borracheiro (PV), flagrado em puro clientelismo.