Título: Crivella: Não abro mão da fé
Autor: Máiran, Paula
Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2008, Eleições Municipais, p. A6

Candidato volta a se dizer honrado por ser evangélico.

Na contramão da multidão que, no rush matutino, ruma da Zona Oeste para o Centro, o candidato a prefeito Marcelo Crivella (PRB) embarcou ontem, na Central do Brasil, em vagão quase vazio, para Campo Grande, às 7h43. No principal calçadão do bairro, ele afirmou em seu discurso que não abrirá mão de sua fé religiosa em nome da carreira política, embora reconheça como fator principal de seu alto índice de rejeição eleitoral, de 29% segundo pesquisa do Ibope, ao seu perfil religioso, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. ­ Não gosto quando me denominam como ex-bispo, porque não deixei de ser. Estou apenas licenciado. E será uma honra para mim voltar um dia ao meu papel religioso após cumprir a minha missão na política ­ afirmou Crivella. ­ Esses 29% muito me honram e dignificam, pois já fui eleito senador com 40% de rejeição... O senador seguiu em lenta caminhada, interrompida por quatro discursos ao alto-falante e também por dezenas de passantes, em aproximação espontânea ou pinçados na rua por cabos eleitorais com o convite para um abraço no candidato e um bate-papo cara-a-cara com ele. Poucos rejeitaram a chance ­ foram tímidos e esparsos os xingamentos ­ de pedir diretamente ao candidato do PRB mais cuidado municipal com o calçamento do centro comercial do bairro, por exemplo. Para muitos a religião não representa impedimento ao voto, como para Maria Firmino, de 57 anos, que até ofereceu a fachada de sua casa para exposição de propaganda de Crivella, depois de pedir mais áreas de lazer para crianças. Mas o candidato assumiu ter ciência de que há fiéis da Igreja Universal que não votariam nele por não concordar com a mistura religião-política. ­ Já ouvi críticas nesse sentido. Mas o pessoal evangélico me conhece não é de hoje. Do trabalho da igreja, bem antes da política. Para mim a política é uma missão e o cargo público, um apostolado que representa idealismo e renúncia. O prefeito Cesar Maia mereceu novas críticas assim que Crivella pisou no calçadão de Campo Grande ­ para a caminhada iniciada após café-da-manhã em pé no balcão de uma lanchonete (pastel de queijo minas com água mineral), equipada com máquinas de jogos caça-níqueis, contravenção com raízes naquela região. ­ A Zona Oeste está abandonada. O Cesar Maia investiu todo o dinheiro da prefeitura na Cidade da Música, enquanto aqui não tem um hospital de qualidade, um posto de saúde 24h ­ criticou. Em seus discursos, Crivella prometeu mais atenção ao calçamento de Campo Grande, novas áreas de lazer melhor equipadas para as crianças e para idosos, campos de futebol, escolas técnicas. ­ Vamos, com Lula, o melhor presidente que o Brasil já teve, fazer o melhor pela Zona Oeste ­ prometeu Crivella, entre um abraço e outro nas pessoas do povo, que manifestavam apoio ou pediam emprego em sua campanha. Na volta, o candidato não pegou de novo o trem da Central ­ do qual saiu impressionado com "esse povo que dá um duro danado para no final do mês ganhar R$ 700, R$ 800...". Do calçadão, Crivella embarcou em um carro para almoçar na sua casa, na Barra da Tijuca (Zona Oeste).