Título: Proposta dos EUA decepciona
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/07/2008, Economia, p. A18

Americanos se dispõem a cortar subsídios em US$ 2 bilhões, mas volume é considerado modesto.

GENEBRA, SUÍÇA Uma guerra de números tomou conta ontem do segundo dia da reunião considerada vital para destravar a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Depois que os EUA anunciaram a esperada proposta de redução dos subsídios agrícolas, o Brasil e outros países reagiram com frieza, apresentando seus próprios números para mostrar que o corte ainda representa avanço modesto. Diante das falta de avanços, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, decidiu mudar o formato da reunião por um dia. Hoje, os países se reunirão em grupos menores. ­ O encontro está em câmera lenta ­ disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim. Pela oferta feita pela representante do Comércio dos EUA, Susan Schwab, o país está disposto a fixar em US$ 15 bilhões o teto da ajuda a seus fazendeiros. É quase o dobro do volume de subsídios pago pela Casa Branca no ano passado, que o Itamaraty estima em US$ 8 bilhões. Além disso, fica do lado de cima do espectro previsto na proposta em discussão, entre US$ 13 e US$ 16,4 bilhões. Apesar disso, Schwab anunciou a proposta como "um gesto significativo" e "de boa-fé". A delegação americana distribuiu gráfico mostrando que os subsídios dos EUA ultrapassaram o teto de US$ 15 bilhões em sete dos últimos 10 anos. ­ É quase US$ 2 bilhões abaixo da média de subsídios concedidos nos últimos 10 anos, de U$ 16,8 bilhões ­ disse Schwab. Logo após o anúncio dos EUA, o G20, grupo de países em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia, divulgou seu próprio gráfico, para mostrar a tendência de queda da ajuda concedida pelos EUA. Para o Itamaraty, não faz sentido estabelecer um teto baseado em médias antigas, quando a previsão é de que os preços dos produtos agrícolas continuarão altos por anos, reduzindo assim a necessidade de subsídios. Inicialmente, Amorim manifestou satisfação com o fato de os EUA terem dado o primeiro passo. Mas disse que a proposta é "insuficiente", não serve para desencadear uma "negociação séria" e sugere pouca ambição: ­ Os subsídios agrícolas determinam o nível de ambição da rodada. Ainda estamos em negocia- ção, então pode ser que essa cifra não seja a final. Mas ela é duas vezes o que eles gastam hoje. Além disso, é US$ 2,5 bilhões mais alta do que a média de 2002 até 2008. Mesmo sem agradar aos países em desenvolvimento, Schwab deixou claro que exigirá contrapartida. ­ Essas reduções não estão sendo oferecidas isoladamente ­ disse a americana, que exigiu cortes maiores nas tarifas industriais dos emergentes. Ela também condicionou sua proposta a uma "cláusula da paz", em que demais países se comprometam a não contestar subsídios dos EUA nos tribunais da OMC. Taciturno, o chanceler da Argentina, Jorge Taiana, demorou a reagir à proposta americana ao ser indagado pelos jornalistas quando chegou à OMC. Após a reunião, Taiana disse não estar sozinho em sua avaliação: ­ Muitos países expressaram que a proposta é decepcionante. Embora Amorim insista em que a posição do Brasil continua sendo a de buscar o teto mínimo incluído na proposta, de US$ 13 bilhões, o setor agrícola deu as boas-vindas à proposta dos EUA. Para o diretor de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Célio Porto, ela ao menos representa um limite para frear picos de subsídios no futuro e permite que um acordo seja fechado. ­ É melhor do que esperávamos ­ disse Porto, que está em Genebra acompanhando as negociações.