Título: Ciro e a sedução do PMDB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), um novo convite para que o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), integre os quadros do partido, as principais lideranças peemedebistas abriram as portas do PMDB ao político cearense.

Ontem, o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), manifestou seu apoio à filiação do ministro à legenda dizendo que ''qualquer partido se sentiria honrado'' com a presença de Ciro. O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, por sua vez, telefonou para o colega e afirmou que o PMDB estaria o aguardando de ''portas e braços abertos''.

A filiação de Ciro ao PMDB seria uma saída para o presidente Lula que deseja ampliar o espaço do partido na Esplanada mas encontra dificuldades em mexer em algumas pastas ocupadas por petistas. A pasta robusta de verba e investimentos acalentada pelo PMDB poderia ser a Integração. Ciro ainda resiste à idéia mas aparentemente não tem pra onde ir. Além do PMDB , a outra opção seria o PT, pelo qual poderia disputar o governo do Rio em 2006.

Seu atual partido, o PPS, decidiu pelo desembarque do governo. Para piorar, deve assumir a presidência do PPS cearense o ex-deputado Juracy Magalhães, seu adversário ferrenho. O PTB insiste em tê-lo na legenda mas a situação é complicada por causa do problemas com o partido no Ceará. Ciro não tem boa relação com o presidente do PTB cearense, Arnon Bezerra.

Apesar dos afagos vindos dos principais caciques do PMDB, Ciro não pensa em tomar nenhuma decisão no afogadilho. Tem até outubro desse ano para bater o martelo, um ano antes das eleições de 2006 conforme prevê a legislação eleitoral. E sabe que a sua ida para o PMDB nesse momento atenderia mais ao partido do que a ele propriamente.

O PMDB está convencido de que precisa ampliar o seu quinhão na Esplanada dos Ministérios. Hoje a sigla controla os ministérios da Previdência Social e das Comunicações, além da Transpetro, estatal do Sistema Petrobrás. Sonha com os ministérios das Cidades ou Integração Nacional e com a Infraero, estatal que controla os aeroportos em todo o país. Tacitamente, condiciona o apoio irrestrito a Lula no Congresso à ampliação do seu espaço. O presidente, por sua vez, cobra dos peemedebistas empenho pela eleição do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) na presidência da Câmara. E considera alto o preço cobrado pelo PMDB por considerar que seria conferir ''muito poder à legenda''. (S.P.)