Título: Lula quer evitar ministro-relâmpago
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, País, p. A3

Presidente admite exceções, mas prefere não incorporar à Esplanada políticos que disputarão as eleições do ano que vem BRASÍLIA - Embora tenha decidido adiar a reforma ministerial para depois das eleições nas presidências da Câmara e do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem deixado escapar em conversas sobre o tema com ministros e assessores próximos alguns critérios que pretende adotar na hora de definir o novo arranjo da Esplanada dos Ministérios. A abrangência da reforma, por exemplo, ainda é um mistério. Segundo interlocutores do presidente, no entanto, estará intimamente relacionada a uma idéia que Lula vem amadurecendo nos últimos dias: a de não incorporar ao governo possíveis candidatos em 2006, uma vez que eles teriam de se desligar dos cargos em abril do próximo ano por exigência da legislação eleitoral. Ou seja, ficariam pouco mais de um ano no governo.

Conforme antecipou o Jornal do Brasil no último fim de semana, Lula está preocupado com a descontinuidade administrativa.

- O presidente pesa muito essa questão de o ministro ficar apenas 12 meses no governo. Realmente é complicado. Você mexe na estrutura do ministério todo e depois, em um ano, fica sujeito a novas alterações ? - avalia um ministro.

Como para toda regra há exceção, inclusive no atual governo, uma das excepcionalidades neste caso seria a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), candidata ao governo do Maranhão em 2006. A filha do presidente do Senado, José Sarney, é encarada como cota pessoal de Lula e está cotada para ocupar um ministério - Previdência, Turismo, Comunicações ou Cidades.

A dimensão da reforma - se será pontual ou mais profunda - vai depender justamente deste possível novo pré-requisito. Lula ainda não sabe se vai adotar o mesmo critério para os ministros que já estão no governo, mas admite a hipótese, dizem ministros próximos a ele. Se a idéia vingar, como a maioria vai se candidatar em 2006, as dispensas na Esplanada serão muito maiores que o próprio PT imagina.

Devem ser candidatos em 2006 os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (governo de Minas Gerais), da Saúde, Humberto Costa (governo de Pernambuco), das Comunicações, Eunício Oliveira (governo do Ceará), das Cidades, Olívio Dutra (Senado), da Secretaria Geral da Presidência, Luís Dulci (senado ou governo de Minas), da Coordenação Política, Aldo Rebelo (reeleição à Câmara) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner (governo da Bahia).

Parece claro que alguns nomes, fundamentais para o andamento da máquina governista até abril do próximo ano, serão preservados. Por exemplo, os ministros hoje integrantes da coordenação política do governo, por quem o presidente guarda admiração e apreço: Rebelo, Dulci , Jaques Wagner e o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Caso fizesse parte da degola pelo critério da candidatura em 2006, Dirceu, nome certo no governo em caso de reeleição de Lula, teria de avaliar melhor a possibilidade de se lançar numa disputa eleitoral. O chefe da Casa Civil examina a hipótese de concorrer à reeleição à Câmara. Ciro Gomes, da Integração Nacional, que também goza de grande prestígio junto a Lula, mesmo que decida ser candidato em 2006 também seria incluído entre as excepcionalidades.

Na última semana, o PMDB, parceiro de primeira hora do Planalto nas discussões a respeito da reforma ministerial, experimentou o gosto amargo desse novo método ventilado pelo presidente nas rodas de conversa. Teve vetado o nome do ex-senador Romero Jucá (PMDB-RR) para assumir um ministério.

O líder do PMDB no Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pai da indicação, terá de procurar outro nome. A restrição não foi nada pessoal, muito menos foram lançadas dúvidas a respeito da capacidade administrativa de Jucá. O problema é que o senador deverá disputar a reeleição ao Senado ou o governo de Roraima em 2006. Hoje a sigla controla os ministérios da Previdência Social e das Comunicações, além da Transpetro, estatal do Sistema Petrobrás. Sonha ainda com os ministérios das Cidades ou Integração Nacional e com a Infraero, estatal que controla os aeroportos em todo o país.

Tudo vai depender, no entanto, do engajamento dos peemedebistas no sentido de eleger o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato oficial do PT à presidência da Câmara, segundo afirmou Lula na reunião de quinta-feira à noite.