Título: Maratona, mas em meio à maresia
Autor: Thurler, Fernanda
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2008, País, p. A5

Venda de drogas pára, mas consumo não, durante a passagem de Crivella

Fernanda Thurler

Em média, são três horas de caminhada por dia debaixo de sol, em ritmo acelerado. O terreno pode ser plano ou inclinado. Durante o percurso, há sempre uma parada estratégica para discursar e recuperar o fôlego, que às vezes pode faltar, mas, aos 50 anos, a disposição é inesgotável. Para repor o líquido perdido, são necessárias cerca de quatro garrafas d¿água. Assim, até parece que o senador Marcelo Crivella voltou aos tempos de oficial do Exército ¿ é 1º tenente de Infantaria Carta Patente ¿ mas trata-se apenas de mais um dia de campanha.

¿ Todos os dias, faço exercício com alteres de seis quilos em casa ¿ brincou o candidato.

Ontem, na Rocinha, o ritmo não foi diferente. A maratona começou nos acessos à favela, área conhecida como Via Ápia, passou pelo Largo do Boiadeiro, subiu a Estrada da Gávea, contornando a famosa Curva do S, e desceu pela Rua 2. No percurso, Crivella passou por algumas bocas-de-fumo (em recesso por sua causa) e, apesar do forte cheiro de maconha, fingiu que não viu. Sobre a atuação do tráfico, o candidato disse que não vai aceitar imposições do poder paralelo.

¿ Não aceito barreiras ou fronteiras ¿ disparou. ¿ Não podemos ter áreas comandadas por nenhuma facção. Não tenho medo de ameaça. Vou continuar subindo com os líderes comunitários.

Conhecido nas comunidades

Crivella disse também que é bem quisto nas comunidades porque não trabalha apenas em período eleitoral. Como exemplo, apontou uma casa-modelo do programa Cimento Social construída na favela em 2004 ¿ quando concorreu pela primeira vez ao cargo de prefeito do Rio ¿ com seu próprio dinheiro.

¿ Custou R$ 11 mil ¿ revelou.

Crivella também pôde ver as péssimas condições de vida dos moradores, obrigados a conviver com valões a céu aberto, lixo pelas ruas, mau cheiro e risco de tuberculose. E prometeu uma nova política habitacional. Em quatro anos, serão construídos 100 mil novos apartamentos financiados para as pessoas que vivem em comunidades carentes. De acordo com a proposta, as famílias que recebem até dois salários mínimos pagariam prestação de R$ 100 por mês.

¿ O objetivo é remover as pessoas das áreas de risco. Esse lugar é um foco de revolta. Quem mora no morro vive pertinho da violência, do tráfico e das milícias ¿ afirmou o candidato, referindo-se à letra da música Ave Maria do morro.

Diferentemente da candidata a vereadora pelo PT Ingrid Gerolimich, o candidato visitou a comunidade sem escolta policial e sem a companhia do presidente da associação de moradores, Luiz Cláudio de Oliveira, o Carlinhos da Academia, candidato a vereador pelo PSDC, partido da coligação do Crivella. No entanto, foi acompanhado pela vereadora Liliam Sá (PR) ¿ uma das mais votadas na Rocinha em 2004 ¿ e pelo ex-presidente William Oliveira.

¿ O senador me convidou, mas preferi não acompanhá-lo o tempo todo porque havia outros vereadores conhecidos da comunidade ¿ explicou William.

O atual líder da Rocinha, justificou a ausência e negou qualquer relação com a discussão com a candidata do PT na véspera:

¿ Estava resolvendo problemas dos moradores na associação.