Título: BC endurece e sobe juros para 13%
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/07/2008, Economia, p. A19

Em decisão unânime, Banco Central aumenta taxa em 0,75 ponto percentual e surpreende

Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou ontem um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros. Assim, em decisão unânime, a taxa Selic subiu de 12,25% para 13% ao ano.

A decisão surpreendeu a maioria dos analistas do mercado financeiro, que esperavam um aumento de 0,5 ponto. Parte dos economistas, no entanto, já previa que o BC poderia acelerar o ritmo de alta dos juros para evitar uma disparada da inflação.

"Avaliando o cenário macroeconômico e com vistas a promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13% ao ano, sem viés", informou o comitê em nota após a reunião.

Trata-se do terceiro aumento da taxa em 2008. No início do ano, a Selic estava em 11,25% ao ano. Com a alta da inflação, o BC iniciou uma nova série de aumentos dos juros para tentar segurar a escalada de preços. Foram dois aumentos de 0,5 ponto percentual.

Agora, os juros voltaram ao mesmo patamar de janeiro de 2007. O maior nível da taxa Selic no governo Lula foi alcançado no início do governo, em fevereiro de 2003 (26,5% ao ano).

Esse não deve ser o último aumento de juros neste ano. Os economistas ouvidos pelo próprio BC esperam que a taxa básica termine 2008 em 14,25% ao ano.

O mercado espera uma nova alta para 13,25% na reunião do Copom no início de setembro; outra para 13,75% em outubro; e para 14,25% em dezembro.

Em janeiro de 2009, os juros chegariam a 14,75% e só voltariam a cair, na previsão do mercado, no segundo semestre, para terminar o ano em 13,75% ao ano.

Inflação

A alta dos juros é uma tentativa do BC de evitar que a inflação estoure o teto da meta para 2008. A meta definida pelo governo para o IPCA (indicador oficial de inflação medido pelo IBGE) é de 4,5% (centro da meta), com tolerância de dois pontos, podendo chegar a 6,5% (teto da meta). O próprio BC prevê uma inflação de 6% para este ano e de 4,7% para 2009, ambas acima do centro da meta.

A instituição também já admite que há 25% de chances de a inflação estourar o teto da meta para este ano. Para os economistas ouvidos pelo BC, o IPCA vai terminar 2008 em 6,53%.

¿ A decisão foi incisiva para garantir a convergência mais rápida da inflação às metas. Foi também uma forma de responder à deterioração muito grande das expectativas de inflação nas últimas semanas ¿ comentou Flávio Serrano, economista sênior do Bes Investimentos.

Apesar do discurso de parte do governo de que a inflação estaria restrita aos preços dos alimentos, o BC já admite que ela tem contaminado outros setores da economia. Parte desse efeito será sentido nas tarifas e aluguéis reajustados pelos IGPs (Índice Geral de Preços), por exemplo, que devem fechar o ano acima de 12%, na previsão de mercado financeiro.

Uma das medidas apontadas como necessárias para segurar a inflação é a limitação do consumo. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, entre as medidas que o governo tomará para combater a inflação, não está previsto o incentivo à redução do consumo das famílias de menor poder aquisitivo:

¿ Eu não vou diminuir o consumo neste país, porque se tem uma coisa que o povo pobre passou a vida inteira esperando é o direito de comer três vezes ao dia, o direito de entrar num shopping e comprar uma roupinha, comprar alguma coisa e isso nós vamos garantir. Vamos garantir, custe o que custar.

Sem fornecer detalhes, Lula disse que adotará as providências necessárias no combate à alta dos preços.

¿ Se alguém imagina que a inflação vai voltar, como já aconteceu no Brasil, pode tirar o cavalo da chuva, porque não vai voltar ¿ acrescentou.