Título: Paris comandou negociação
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, Internacional, p. A7

PARIS - A afirmação de um diplomata brasileiro em Amã, de que o seqüestro do engenheiro brasileiro no Iraque teria sido obra de bandidos comuns, não serve para tranqüilizar e demonstra falta de conhecimento da realidade iraquiana. Sabe-se que, no caso dos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, retidos por quatro meses, a ação foi realmente feita por bandidos, mas sob encomenda e controle da guerrilha, a quem a ''mercadoria'' foi entregue mais tarde.

Informações divulgadas recentemente pela imprensa francesa mostram que o Palácio Eliseu levou a sério as ameaças do Exército Islâmico do Iraque, um dos nomes da rede de Abu Musab Al Zarqawi, responsável pela execução do jornalista italiano Enzo Baldoni. Tanto que o presidente Jacques Chirac criou um grupo de operação que funcionava 24 horas em Matignon, residência do primeiro-ministro Jean Pierre Raffarin. O comando estava a cargo de Michel Boyon, chefe de gabinete de Raffarin, auxiliado pelo diretor da DGSE, o serviço secreto francês, Pierre Brochand. A sala estava conectada com a embaixada em Bagdá.

Paris sempre negou ter pago resgate pela libertação de Chesnot e Malbrunot, que foram mantidos detidos por quatro meses. Porém, segundo o semanário L'Express, teria havido uma transação financeira não pela libertação em si, mas para a contratação de um ''intermediário'' de confiança, alguém que pudesse negociar com os seqüestradores. Esse homem, cuja identidade não é revelada, encaminhou o pedido por uma prova de vida aos rebeldes e depois trouxe a resposta do grupo.

Para surpresa da cúpula da investigação, a primeira resposta dos rebeldes foi entregar, na representação diplomática em Amã, Jordânia, um CD com imagens dos reféns. Tentando ganhar tempo, o embaixador francês em Bagdá, Bernad Bajolet, alegou que estava difícil determinar que as cenas eram recentes. O intermediário, com quem Bajolet falava através de e-mails de dois sites na internet, obteve, então, um jornal de 21 de novembro, entregue no mesmo dia, com as assinaturas dos dois jornalistas.

De acordo com declarações de Malbrunot ao Le Figaro, os rebeldes iraquianos montaram uma espécie de empresa na qual os encarregados da captura não conhecem os carcereiros, estes não sabem quem são os interrogadores e, por último, todos desconhecem quem são os chamados ''juízes islâmicos'', encarregados da sentença, e seus executores.