Título: Odebrecht afasta Itamaraty
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, Internacional, p. A7

Comissão de Direitos Humanos da OAB critica papel de liderança da empresa na condução do seqüestro do brasileiro

A construtora Odebrecht pediu ao Ministério das Relações Exteriores que deixe a própria empresa cuidar das providências para tentar solucionar o caso do seqüestro do brasileiro que trabalha para a construtora no Iraque, capturado quarta-feira na cidade de Beiji, Norte do país. A ''aceitação'' do pedido por parte do Itamaraty levou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Edísio Simões Souto, a fazer duras críticas ao ministério.

- Há um grande equívoco. O interesse privado está se sobrepondo ao público. A liderança deve ser do Itamaraty, que é muito competente e sabe como tratar esse tipo de situação, não da empresa. Não estão lidando com uma mercadoria, mas com um cidadão brasileiro. É uma questão de Estado - frisou Souto ao JB.

Em nota oficial, o Ministério de Relações Exteriores afirmou que está acompanhando a questão com estreita coordenação com a Odebrecht e mantendo contato permanente com embaixadas na região. O texto disse ainda que o Itamaraty se colocou à disposição, mas confirmou que a empresa preferiu conduzir o caso por conta própria.

- Rebatemos enfaticamente qualquer alegação de omissão no caso. Esse foi um pedido expresso da Odebrecht. Também não recebemos qualquer solicitação da família para que atuássemos nesse primeiro momento - disse o secretário de imprensa do Itamaraty, Paulo Gustavo Iansen.

O assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, fez coro:

- A Comissão de Direitos Humanos da OAB precisa se informar melhor. Estamos agindo mesmo antes de o caso se tornar público.

Até agora, acredita-se que o seqüestro pode ter sido cometido por criminosos comuns, sem conotação política, e que a presença do governo poderia atrapalhar o desenrolar do caso.

Ontem, a Embaixada do Brasil em Amã revelou que a Odebrecht confirmou o seqüestro, até então tratado como provável. Além disso, segundo a representação, apenas um funcionário da empresa permanece no país acompanhado as investigações, enquanto os outros seis já foram para Amã.

O brasileiro, que aparentemente trabalhava como engenheiro, é do Rio de Janeiro e estava no país desde fevereiro, foi capturado numa emboscada 180 km ao Norte de Bagdá. Sua identidade é mantida sob sigilo pela Odebrecht, que alega questões de segurança.

Ontem, em outra nota, o Itamaraty recomendou aos brasileiros que pretendam viajar ao país por razões profissionais que levem em conta o alto risco, já que a violência atingiu ''patamares sem precedentes'' no Iraque, há poucos dias das eleições.