Título: Grãos, portos e, agora, energia fazem parte do grande império
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 08/06/2008, País, p. A8

Brasília

Embora legalmente afastado do comando de suas empresas, a tarefa mais difícil de Blairro Maggi não é provar ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que não está devastando a Amazônia: seu desafio é convencer os interlocutores que suas ações como governador não beneficiam seus empreendimentos privados. Da produção de grãos à geração de energia, o império econômico montado pelo governador mexe com todos os ramos de atividade relacionados à vocação econômica do Estado que governa.

A principal empresa do grupo, a Amaggi, cuida da importação e exportação de grãos (soja, algodão e milho) e derivados. Outra, a Divisão Agro controla cerca de 150 mil hectares de terras que formam as fazendas de produção ligada ao agronegócio. Uma terceira, a Hermasa, é dona de silos e armazéns e com um terminal em Itacoatiara (AM), controla o corredor hidrográfico amazônico no transporte de grãos destinados à exportação.

A mais recente delas é a Maggi Energia, dona de centrais elétricas em Mato Grosso, cuja energia produzida abastece as propriedades do governador, empreendimentos de outros produtores e, dentro de pouco tempo, deve comercializar energia elétrica para outras regiões do país.

Projetos suspensos

Pelo menos dois projetos de construção de usinas na região do Rio Juruena, atualmente suspensos pela justiça, foram autorizados pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) na gestão de Blairo Maggi, eleito governador em 2002 e reeleito no ano passado. A dificuldade em separar a atividade privada da pública é tão visível que, ao assumir, Maggi levou para o governo estadual os homens com os quais dividia a condução de suas empresas privadas.

Nos seis anos como governador, Maggi ainda não respondeu denúncias de desvio de recursos públicos ou prática de corrupção, mas suas ações como governador, longe de representar apenas um embate ideológico entre desenvolvimentistas e preservacionistas, acabam favorecendo as empresas de seu grupo.

¿ O Blairo Maggi privatizou o Estado ¿ brinca o professor José Domingos de Godoi Filho, da Universidade Federal do Mato Grosso.

O inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar supostas irregularidades na concessão de licença para a construção das linhas de transmissão pode ser a primeira saia justa imposta a Blairo Maggi.

¿ O governador tem interesse pessoal nas obras da usina de Dardanelos e nas linhas de transmissão ¿ afirma o promotor Luciano Martins, do Ministério Público de Aripuanã.

Ele é autor da tese segundo a qual Maggi deveria ter se declarado impedido de defender a obra ou permitir que um órgão estadual sob seu comando, a Sema, desse o parecer sobre impacto ambiental. Martins diz que além disso, os rios que servem ao complexo de usinas e às duas linhas de transmissão são de responsabilidade do governo federal. Isso significa, segundo ele, que a licença ambiental deveria ficar exclusivamente à cargo do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

Num primeiro embate, Martins perdeu. A Justiça Federal não aceitou seus argumentos e, aceitando o argumento de que o impacto das obras atingiria o Estado, permitiu que os estudos ambientais ficassem sobre a responsabilidade da Sema. Com cerca de 70 servidores distribuídos aos mais diferentes focos ambientais ¿ Mato Grosso tem cerca de 150 mil propriedades rurais a serem fiscalizadas ¿ a secretaria estadual tem estrutura tão limitada que privatizou parte de suas funções. (V. Q.)