Título: Dois anos de acordos sem resultado
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, Rio de Janeiro, p. A13

A cooperação que está sendo acertada entre os governos estadual e federal para o combate ao crime demorou a ser concretizada. Durante os dois últimos anos não faltaram reuniões e críticas das duas administrações sobre a melhor forma para reduzir a criminalidade no Estado do Rio. Só em novembro do ano passado, porém, foi selado o acordo sobre a troca de informações, além das ações conjuntas para conter o tráfico de drogas e armas. Ao longo dos últimos anos, proliferaram os anúncios de criação de forças-tarefas para o combate ao crime organizado. Nenhuma das medidas, porém, saiu do papel. A divergência de opiniões marcou a maior parte dos encontros. Em uma delas, no ano passado, o então secretário de Segurança Pública Anthony Garotinho pediu a presença de quatro mil homens do Exército para o patrulhamento nos morros do Rio sob o comando do governo estadual. O pedido foi negado pelo governo federal. Na ocasião, a proposta do secretário Garotinho causou constrangimento ao secretário nacional de Segurança Pública, o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, por ter sido realizado diante das câmeras de TV e na presença de jornalistas.

O caso levou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a reagir e dizer que as ''Forças Armadas não são um instrumento assim, prêt-à-porter, que se possa pegar e trazer sob a direção de autoridades estaduais''. A troca de farpas afastou as cúpulas da área de segurança pública dos governos estadual e federal, enquanto a população se via acuada em meio ao confronto de facções rivais pelo domínio do tráfico de drogas.

As constantes tentativas de invasão comandadas por traficantes de drogas da Rocinha para invadir o Morro do Vidigal, em São Conrado, além do fechamento da Avenida Niemeyer e dos comboios de criminosos para atacar policiais e motoristas que passam pelas vias expressas da cidade, levaram a uma nova aproximação entre as duas administrações.

A vinda do ministro Márcio Thomaz Bastos ao Rio, em novembro passado, que rendeu dois encontros com o atual secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, serviu para acertar a união e, conseqüente, a troca de informações entre as unidades de inteligência do Estado e do governo federal. Os encontros também serviram para agilizar a liberação de verbas e compra de equipamentos, como carros e armas, para o combate ao crime no Estado.