Título: Tropa federal vai entrar em favelas
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2005, Rio de Janeiro, p. A13

Estado e União selam acordo e programam envio de 600 homens para começar operação ''pente fino'' contra o tráfico

BRASÍLIA - Depois de um ano de divergências políticas em torno da segurança pública, a União e o Estado finalmente acertaram os ponteiros para realizar uma operação pente fino nos morros do Rio. A ação integrada pode começar antes do Carnaval. O principal objetivo é recolher as armas dos soldados do tráfico nas favelas da cidade. As operações deverão contar com 600 homens da recém-criada Força Nacional. - Acredito que pelo menos uns 600 homens sejam destacados para trabalhar nessas incursões. Isso vai depender da disponibilidade da União para se somar ao nosso pessoal - anunciou o secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, que representou o Estado na negociação.

Hoje, as ações do Estado nos morros mobilizam entre mil e 1.500 homens. Com a União, o efetivo nas favelas pode chegar a até 2.100 policiais. As ações conjuntas foram seladas em uma reunião no Ministério da Justiça. O Secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, recebeu oficialmente o plano de segurança elaborado pelo Estado e aceitou unificar também a parte operacional. O trabalho integrado entre o governo federal e o Estado já tinha sido iniciado pela unificação das áreas de inteligência da Polícia Federal com as Polícias Civil e Militar, em torno da Operação Suporte.

Corrêa e Itagiba participaram no início da noite de uma solenidade de formatura de novos policias da Força Nacional, na sede da Academia Nacional de Polícia, da Polícia Federal. Segunda-feira, União e Estado se juntam novamente em uma reunião do Gabinete de Gestão Integrada, no Rio, para definir as tropas.

- As ações de inteligência já estão integradas. Agora queremos passar para um segundo patamar, como consta na proposta do Rio - anunciou Itagiba.

Após detalhar o plano de ação do Estado ao Ministério da Justiça, Itagiba disse que as ações nos morros visam principalmente o recolhimento de armas e drogas. Em tom de ultimato, o secretário anunciou que os soldados do tráfico que oprimem a população serão o principal alvo da operação pente fino.

- Temos de enfrentar os soldados do tráfico, que estão escondidos dentro destas comunidades, retirar as armas de guerra e granadas, combatê-los - disse Itagiba.

O governo federal está de acordo com o conceito de ação integrada apresentado pelo Estado, disse Itagiba. As operações nos morros já estão ''delineadas'' e a fase agora é de ''formular as ações de combate'', disse o secretário. Por questões de segurança, Itagiba não apresentou os nomes dos morros por onde começam as ações, mas deu uma pista. Segundo o secretário, as ações integradas vão seguir os padrões de duas ''pré-operações'', realizadas no Morro dos Macacos e na Favela da Rocinha.

- São incursões nas áreas mais conflagradas e nas áreas onde os bandidos estejam submetendo alguma parte da população a um processo de violência - afirmou Itagiba.

O secretário tentou apagar a série de divergências entre União e governo do Rio na área de segurança. Ele afirmou que o Rio não integrou a Força Nacional antes porque ela não existia no papel.

- A governadora Rosinha Garotinho determinou que a Secretaria de Segurança Pública ultrapasse qualquer barreira política para que todos os organismos que têm responsabilidade nessa área estejam empenhados para reduzir os índices de violência - discursou Itagiba

O secretário Luiz Fernando Corrêa contou que, a partir de uma orientação do ministério, foi realizada reunião com o Rio para a nova fase do relacionamento entre Estado e União.

Os moldes da cooperação operacional ainda não foram decididos.

- Quem vai definir de onde virão os reforços é o governo federal. Se vai ser Exército, Marinha, Aeronáutica, Força Nacional, Polícia Federal ou Receita, ainda não sabemos - disse Itagiba.

Pelos números da Secretaria de Segurança Pública, foram presos 45 mil bandidos nos últimos dois anos. No período, 30 mil armas foram recolhidas e 75 chefes do tráfico foram mortos ou presos.

- Nossa meta é aumentar esse patamar e melhorar a sensação de segurança nas comunidades carentes do Rio - disse Itagiba.