Título: Lula afaga prefeitos da Baixada
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2005, País, p. A5

Presidente manda recado a Rosinha Matheus: ''Governos municipal e federal não precisam de intermediários''

A reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e 14 prefeitos da Baixada Fluminense, ontem, em Brasília, teve forte conotação política. Embora o governo não tenha anunciado um pacote de investimentos nas áreas de saneamento e saúde, como se esperava, abriu um importante canal de interlocução para os municípios e fez um afago nos prefeitos, que saíram animados. - Esta reunião é o começo de uma nova relação com as chamadas regiões metropolitanas - disse o presidente Lula, acrescentando que nos próximos dias receberá também os prefeitos das cidades do entorno de São Paulo.

O presidente Lula reuniu quatro ministros para deixar claro que os governos federal e municipal ''não precisam de intermediários''. A frase foi interpretada pelos prefeitos como um recado à governadora carioca Rosinha Matheus, que tem barrado a liberação de recursos para municípios que não são de sua base aliada.

Lula anunciou que R$ 6 milhões do Fundo Nacional da Saúde (Funasa) estão disponíveis para obras de saneamento no município de Magé e outros R$ 5 milhões para Seropédica, cidades administradas por partidos de oposição ao Governo federal. Outros R$ 25 milhões serão liberados assim que as prefeituras enviarem seus projetos.

O ministro da Saúde, Humberto Costa, também anunciou a instalação de 25 centros de odontologia no valor de R$ 1,2 milhão em obras, mais R$ 2,5 milhões em custeio, 11 novos centros de saúde bucal e oito unidades de farmácias populares.

- O que queremos é dar densidade às políticas públicas do governo federal - afirmou Lula.

Segundo o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), o valor liberado ainda é muito pouco em relação aos investimentos que a Baixada necessita. Os pleitos dos municípios somavam R$ 1 bilhão. Mas ele acrescentou que a reunião ''abriu as portas e deixou os prefeitos mais tranqüilos''.

O presidente prometeu, por exemplo, que os governantes municipais não terão de pedir licença para conversar com os ministros.

Os prefeitos da Baixada foram também ouvidos com atenção pelo chefe Casa Civil, José Dirceu, pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e pela ministra interina do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, Márcia Lopes.

- Não quero saber de que partido vocês são, para que escola de samba vocês torcem, qual o time de futebol de vocês ou a religião a que pertencem - disse Lula, acrescentando que lhe interessa saber apenas que eles são prefeitos.

O presidente acrescentou, ainda, que quanto melhores as relações institucionais, melhor para o povo. E que se a relação entre as duas partes não for politico-partidária, o país irá caminhar nos próximos três anos mais do que nos últimos dez.

O ministro dos Transportes garantiu para março o início das obras do trecho do Arco Rodoviário que vai ligar a Baixada ao Porto de Sepetiba. Alfredo Nascimento também anunciou a duplicação da seção da BR-101 que liga o bairro carioca de Santa Cruz ao município de Itaguaí.

Para as demandas não atendidas, Lindberg, que também é o presidente da Associação dos Prefeitos da Baixada, informou que irá montar uma equipe para acompanhar o orçamento da União no que diz respeito ao repasse de verbas para os municípios. A idéia é apresentar um projeto único de saneamento básico.

Lula aproveitou para dar um puxão de orelhas nos prefeitos, que muitas vezes não fazem o dever de casa.

- É preciso que as prefeituras preencham toda a burocracia e a papelada exigida para a liberação da verba. Muitas vezes o prefeito não atende aos requisitos exigidos pelo governo, e aí o dinheiro não sai, vai pro superávit - brincou, bem-humorado.

O presidente finalizou dizendo que tinha consciência que nesta reunião não iria resolver problemas que estão acumulados há centenas de anos, mas que espera ter dado um sinal claro de uma nova etapa entre as partes.