Título: A realidade do poder paralelo
Autor: Thurler, Fernanda
Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2008, Cidade, p. A10

Governador admite dificuldade em erradicar milícias e traficantes das comunidades carentes.

O crescimento das milícias e a certeza de que o poder paralelo comandado por elas está se transformando na mais nova praga do Rio, levaram o governador Sérgio Cabral a admitir que a cidade tem mesmo áreas em que o Estado ainda não conseguiu entrar. Ontem, durante a inauguração do Sistema de Coleta de Esgoto do Centro, na Oraça Mauá, Cabral discursou diante de oficiais militares e abriu o jogo: existem áreas que estão sob o domínio de milicianos.

¿ A cidade não pode ter um metro quadrado sequer sob o comando do poder paralelo. Mas ela tem. Existem áreas sob domínio de traficantes e milicianos que determinam regras e valores à população que lá vive. Temos que combater essa barbárie com inteligência, investigação e parceria com o governo federal ¿ frisou Cabral.

Hoje, estima-se que os grupos paramilitares comandem cerca de 2 milhões de moradores de 63 comunidades carentes na capital. Em 2000, segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 811 favelas no Estado. E, para controlar os comandos dessas comunidades, o governador disse que a política utilizada pela Secretaria de Segurança está no caminho certo.

¿ Eu rejeito qualquer crítica que seja feita ao secretário José Mariano Beltrame. Ele está de parabéns pelo rigor com que vem combatendo os traficantes e os milicianos. Despoluir a política de segurança não se faz como um passe de mágica, e sim com muito trabalho ¿ elogiou Sérgio Cabral.

Pesquisadora faz críticas

No entanto, para a professora Alba Zaluar do Núcleo de Pesquisas da Violência da Uerj, o discurso de Cabral de investir em inteligência não está sendo cumprido:

¿ Ainda há muito que investigar. Como explicar o bom armamento nas mãos dos traficantes? E o enriquecimento de policiais, que cobram por tantos serviços, até pela segurança? ¿ questionou Zaluar.

Já a diretora do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime, Jacqueline Muniz, afirma que as ações de rotina são necessárias, mas que é preciso regulamentação da atividade policial.

¿ As ações de policiamento, como investigação e inteligência, são insuficientes sozinhas. É fundamental que o Legislativo defina e atualize o plano de carreira, o estatuto do policial para que ele não seja massa de manobra na sociedade.

Dando seqüência ao Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, o governador Sérgio Cabral junto com o presidente da Cedae, Wagner Victer, inaugurou ontem de manhã o Sistema de Coleta de Esgotos do Centro, responsável por impedir que mil litros por segundo de dejetos sem tratamento sejam despejados na Baía. O projeto, que teve um investimento de R$ 175 milhões, ficou pronto depois de mais de 10 anos de obras. Hoje, o Rio tem 60% do esgoto coletado, mas apenas 25% vão para o mar tratados antes do despejo.

¿ Segurança e meio ambiente têm paralelos semelhantes. Estão à mercê do crescimento irresponsável e da desordem urbana. A falta de planejamento dos anos 70, 80 e 90 é a causa do cenário atual ¿ concluiu o governador Cabral.