Título: Lupi admite trabalho degradante
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2008, Economia, p. A17
Ministro anuncia na OIT criação de 1 milhão de empregos entre janeiro e maio de 2008.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, admitiu ontem a existência de trabalho degradante e escravo na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Mas ele atacou as críticas feitas pelos países ricos e pediu "mais respeito à soberania do Brasil", ao falar na abertura da assembléia da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que ocorre anualmente na Organização das Nações Unidas .
¿ O Brasil não está escondendo a realidade e está tomando medidas para lutar contra o problema ¿ disse Carlos Lupi.
Nos últimos meses, pressões na União Européia (UE) têm obrigado as autoridades de Bruxelas a pensarem na criação de um certificado social para que o etanol importado possa entrar no mercado europeu. Ainda não há uma definição sobre o assunto, mas a temática preocupa as autoridades brasileiras.
¿ Os problemas existem e em uma quantidade ainda grande. Mas não somos como os americanos ou outros países que se recusam a debater o assunto. Nos últimos anos, libertamos mais de 28 mil trabalhadores e intensificaremos nossos trabalhos nessa área ¿ prometeu.
Segundo Lupi, neste ano, até maio, 1.100 trabalhadores teriam sido livrados de condições degradantes de trabalho no país.
O trabalho escravo também foi tema da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no programa semanal de rádio, Café com o presidente. Lula anunciou que o governo estuda junto com os empresários do setor de álcool e açúcar um contrato de trabalho para melhorar a situação dos cortadores de cana-de-açúcar.
¿ Isto servirá para acabar com acusações de péssimas condições de trabalho no setor, que reconheço serem pesadas ¿ disse Lula.
Segundo Lupi, o governo já negocia a criação de um protocolo para garantir a padronização na produção de cana, com selo social.
¿ O Brasil quer ajudar na erradicação da pobreza. Mas o país e o princípio da autodeterminação dos povos precisam ser respeitados.
Para o ministro, os maiores problemas ainda estão no interior do país: "não tenho dúvida que, em menos de 10 anos, toda a produção em São Paulo estará mecanizada. Mas isso não é a situação de outras regiões".
Recorde de abertura de vagas
Um número recorde de postos de trabalho foi criado no Brasil entre janeiro e maio deste ano, de acordo com dados preliminares do Ministério do Trabalho. De acordo com o Carlos Lupi, 1 milhão de empregos formais foram gerados nos primeiros cinco meses do ano.
¿ Esse é um número recorde e, teremos, até o fim do ano, o desemprego sendo reduzido para uma taxa de 8,7% para 8% ¿ anunciou o ministro do Trabalho.
Para Lupi, o ano deve fechar com a criação de 1,8 milhão de empregos. Em 2007, era 1,6 milhão.
¿ Neste ano, vamos superar a marca ¿ afirmou Lupi, explicando em seguida que um dos fatores de crescimento do emprego tem sido a contratação de pessoas na informalidade. ¿ Há dez anos, 60% das pessoas que trabalhavam estavam na informalidade. Hoje, essa taxa caiu para 52%, contra 48% na formalidade. A taxa ainda não é ideal, mas a tendência é positiva ¿ disse o ministro do Trabalho.