Título: Discursos a favor da alta dos juros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2008, Economia, p. A18

Mantega prevê desaceleração da inflação apenas no fim do ano e defende medidas do Copom.

A taxa de inflação deve continuar acelerando até o fim do terceiro trimestre, impulsionada pela alta de preços dos produtos básicos e pelo consumo dos brasileiros. A avaliação foi apresentada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na abertura da 2ª Reunião Ministerial de 2008, realizada no Palácio do Planalto.

Na apresentação Choque de commodities e inflação mundial, o ministro colocou entre suas perspectivas a desaceleração da inflação apenas no fim do ano, devido à queda da demanda de alimentos aliada à perda de poder aquisitivo da população de baixa renda.

¿ Segundo estimativas do BC e do mercado o crescimento do PIB deve desacelerar neste ano. Apesar da manutenção do ritmo de expansão da demanda doméstica, o rápido crescimento das importações reduzirá o crescimento do PIB mais do que em 2007 ¿ demonstrou o ministro na apresentação.

Mantega expôs que a alta de preço é um fenômeno mundial e que representa o maior choque de preços desde os anos 70. Segundo o ministro, a inflação está acima do centro da meta para 2008 em todos os países que adotam o sistema de meta de inflação. No Brasil, o centro da meta é de 4,5%, e o índice oficial de preços acumula alta em 12 meses superior a 5%.

¿ Segundo as expectativas de mercado, a inflação atingirá 5,9% em novembro de 2008 e fechará este ano em 5,5%. Depois disso, as expectativas apontam para uma redução gradual da inflação, chegando-se a 4,6%, em 2009, e 4,5% em 2010 ¿ avaliou o ministro.

Entre as medidas adotadas pelo governo para segurar a alta de preços, Mantega cita o aumento "preventivo" da taxa básica de juros pelo Banco Central (que já aumentou a Selic de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano), e a redução dos gastos públicos. Defesa que recebeu o apoio do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Juntos argumentaram que a alta na taxa Selic foi necessária para manter a inflação do país sob controle.

O ministro também citou que o atual ritmo de crescimento econômico, na faixa de 4,5% a 5,0%, é compatível com o potencial da economia nos próximos anos e que é possível controlar a inflação sem abortar o crescimento, apenas com uma ligeira desaceleração.

¿ O Brasil demonstra estar bem preparado para choques ¿ avaliou Mantega.

Fundo Soberano

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou que o Fundo Soberano do Brasil (FSB) deve chegar a US$ 300 bilhões nos próximos cinco anos. O resultado será alcançado a partir do momento em que as recém descobertas de reservas de petróleo e gás (no Atlântico Sul) começarem a deslanchar, o que será possível dentro de cinco anos.

Segundo informações do ministério, o projeto de lei que estabelece a criação do Fundo Soberano será enviado ao Congresso Nacional, apenas, após a aprovação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), a nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta no fim do ano.

O Ministério da Fazenda informou ainda que o Fundo Soberano do Brasil poderá contar com cerca de US$ 13 bilhões só este ano, recursos decorrente do excedente de 0,5% da meta do superávit primário, chamada de "poupança fiscal". A idéia é de que os ativos do fundo cheguem a US$ 30 bilhões até em 2010 e passem a crescer de forma significativa a partir de 2013 quando as reservas de petróleo e gás começarem a surtir efeito nas contas públicas. O Fundo usaria royalties pagos por empresas contratadas para explorar os novos campos.