Título: Fundo promete remuneração elevada em atividade de risco
Autor: Magnavita, Cláudio
Fonte: Jornal do Brasil, 11/06/2008, País, p. A3

O Matlin Patterson é formado por três diferentes fundos de investimentos: o I, II e III, criados com a participação de diferentes investidores, todos ultra-sofisticados e soberanos, formados por fundos de pensão e fundos das grandes universidades. O perfil desses fundos de risco permite a previsão de remuneração elevada, algo em torno de 20% ao ano.

O Fundo I, criado em 1991, tem aproximadamente US$ 2 bilhões de capital e, entre setembro de 2002 e fevereiro de 2008, rendeu aos seus investidores 18% ao ano. O grande ativo deste fundo é uma empresa de produtos químicos finos chamada Huntsman, que tem a sua venda pendente neste momento para a empresa Hexion, de outro fundo de private equity, o Apollo Partners.

O Fundo II, iniciado em 2004, teve, até fevereiro deste ano, uma rentabilidade de 11% ao ano. É um fundo menor que o original, com aproximadamente US$ 1,3 bilhão. A VarigLog, a VRG (por meio da VarigLog) e a ATA foram companhias aéreas com investimentos deste fundo.

Só a operação da Varig e VarigLog foram investidos US$ 350 milhões, o que representa uma exposição de 27% do capital do fundo em um único negócio, por intermédio da Volo Logistics LLC.

Outra empresa

O Fundo II investiu também na ATA, outra companhia aérea, mas nos Estados Unidos, que depois foi chamada de Global AeroLogistics e na qual detinha controle majoritário (76% do capital total). A ATA parou de voar dia 3 de abril de 2008, três dias após o juiz José Paulo Camargo Magano dar a decisão que passava a gestão da VarigLog ao Fundo Matlin Patterson.

A perda global da ATA para seus investidores no Fundo II do Matlin Patterson é de US$ 350 milhões. Só com a falência dessa empresa, o fundo perdeu 12% do seu capital. As empresas aéreas representam quase 40% de todos os investimentos do Fundo II.

Já o Fundo III, o mais recente, iniciado em meados de 2007, teve até fevereiro deste ano taxa interna de retorno negativa de 10% ao ano, segundo um de seus investidores . Não se tem informação pública de empresas que fazem parte de seu portfólio, porém o seu capital é superior a US$ 5 bilhões.

Alto risco

Com três diferentes fundos, o Matlin Patterson trabalha com uma alta taxa de risco. No documento confidencial de captação do Fundo III foi detalhada as operações dos dois anteriores, incluindo uma análise do Fundo II e da empresa VarigLog.

As revelações mostram o poder que o fundo tinha sobre a empresa por controlar a chave do cofre, informando textualmente no documento: "De acordo com a legislação brasileira o Fundo II não pode ocupar uma cadeira na diretoria da VarigLog, mas pode ter uma substancial influência sobre o gerencialmente e a estrutura da companhia".

No mesmo documento, o fundo lembra que adquiriu a VarigLog por meio de uma operação com a TAP ¿ Transportes Aéreos Portugueses, que havia adquirido ativos da antiga Varig, com autorização judicial, e que parte deles foi repassada para o Matlin Petterson.

A presidente do Sindicato dos Aeroviários, Selma Balbino, afirma que a atuação internacional do Matlin Patterson não respeita as relações trabalhistas e nem as empresas. "Já tínhamos sido avisados pelos sindicalistas norte-americanos que o Fundo não se preocupa com os empregados e com as empresas que compra. O que interessa a eles é só o lucro, mesmo que o preço seja o de milhares de empregos, como foi com a empresa de aviação que quebrou nos Estados Unidos e agora na VarigLog", afirma a presidente do Sindicato dos Aeroviários. (C.M.)