Título: Mantega: desaceleração é desejável
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 11/06/2008, Economia, p. A18

Para ministro, resultado mostra equilíbrio entre oferta e demanda e ajuda a conter inflação.

Brasília

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) ao crescer 5,8% no primeiro trimestre sobre igual etapa de 2007. Segundo ele, a "grande novidade" nos dados é o equilíbrio entre a oferta e a demanda. Isso porque houve uma desaceleração do consumo das famílias, de 8,6% para 6,6%, e avanço na taxa de investimento, acima de 15%, entre o último trimestre de 2007 e o primeiro deste ano.

¿ A desaceleração da demanda era desejada pelo governo, para que houvesse equilíbrio entre a oferta e a demanda ¿ confirmou.

O ministro declarou ainda que o aumento do PIB é puxado pela indústria de transformação, que cresceu 7,3%, e pela construção civil, com avanço de 8,6%.

¿ Isso é muito positivo ¿ disse.

Os dados do IBGE, segundo Mantega, mostram que os números certamente convergem para o cumprimento da meta do governo, de crescimento de 5%, para 2008. Segundo ele, o país tem condições de repetir a mesma taxa em 2009 e em 2010. A expectativa representa uma redução do ritmo de crescimento em relação aos 5,4% apurados em 2007, que, segundo Mantega, cumpre as expectativas do governo.

Para o ministro, o arrefecimento da demanda é resultado das ações feitas pelo governo para inibir o consumo das famílias. Assim, a economia cresce de forma equilibrada. Entre as medidas, o governo buscou enxugar a demanda por crédito no mercado através do aumento da alíquota de IOF no crédito destinado às pessoas físicas e implantou a cobrança de compulsórios nas empresas de leasing, medida tomada pelo Banco Central.

¿ Isso diminuiu a disponibilidade de recursos financeiros e aumentou um pouco os juros no mercado ¿ disse o ministro.

Além disso, o ministro destacou que o governo elevou o esforço fiscal (superávit primário) no trimestre, a despeito das despesas públicas terem crescido fortemente no período. E a economia feita, disse, será usada em uma "poupança pública" no Fundo Soberano do Brasil (FSB).

Lula: "Não é vôo de galinha"

A idéia foi reforçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante feira do setor da saúde em São Paulo, Lula disse que o crescimento do PIB de 5,8% vai ajudar a manter o equilíbrio entre a oferta e demanda e evitar o descontrole da inflação. Lula disse ainda que o "país se encontrou".

¿ Estou convencido de que vamos permanecer assim por muitos anos, não é vôo de galinha. É importante lembrar que todos estavam chorando em 2004 e 2005. E hoje o que percebemos é que o país se encontrou consigo mesmo. O Brasil começou a perceber que se ele der certo, a América do Sul vai dar certo, a América Latina vai dar certo. E que a indústria brasileira tem condições de ser carro-chefe do dinamismo ¿ afirmou o presidente.

Já o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, disse que o PIB do setor de serviços está subestimado. As riquezas poderiam ser maiores se fossem incorporadas, à metodologia, as áreas que ele chamou de "imateriais". Tais como a tecnologia da informação, as áreas de biotecnologia, às vinculadas à ciência e às aplicações financeiras.

¿ Todas essas novas áreas produzem riquezas e que não estão sendo contabilizadas.

Entretanto, ele disse que o problema não é nacional e a contabilidade brasileira está adequada à metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ele, ainda não existe uma fórmula para medir as riquezas imateriais, apesar do avanço mundial.

¿ Isso não é um problema do IBGE, isso é um problema de medida (internacional) ¿ disse.