Título: Depoimento de Teixeira já não assusta mais o Planalto
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 17/06/2008, País, p. A6
Todos os personagens convidados confirmaram presença no Senado.
Brasília
O racha da oposição para definir uma estratégia diante das denúncias de interferência da cúpula do governo na venda da Varig e da VarigLog deixou os governistas à vontade para liberar o depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado de personagens delicados. As últimas informações do Palácio do Planalto dão conta de que a cúpula do governo não teme mais a participação de Roberto Teixeira, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e dos três sócios brasileiros do fundo norte-americano Matlin Patterson, que comprou a companhia, amanhã na comissão.
O entendimento dos governistas é de que as declarações da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, são pouco consistentes, uma vez que não apresentou novidade alguma e não conseguiu comprovar nada. Portanto, o governo acredita que se até lá nenhum fato novo surgir o melhor é deixar que os depoimentos ocorram o quanto antes, para encerrar as investigações e desmontar as acusações de que a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, pressionou a Anac favorecendo o fundo norte-americano nas negociações.
Os oposicionistas ¿ que não se entendem se devem ou não criar uma CPI para investigar o caso - acreditam que se o governo não blindar Teixeira a estratégia pode ser desmontada. O escritório dele atuou no processo de transferência acionária da Varig. Documentos entregues por Denise na Comissão, deixariam claro que Teixeira exerceu empenho incomum para viabilizar a venda da empresa aérea e que a Casa Civil corroborou, interferindo e pressionando a Anac durante todo o processo.
Pela cronologia da transação, Teixeira, que recebeu US$ 5 milhões do empresário Marco Antônio Audi para que a VarigLog passasse ao comando do fundo americano Matlin Patterson, comandaria depois a transferência da empresa para a Gol, numa ação envolvendo comprador e vendedor em todas as pontas da transação.
Dívida zerada
Segundo a oposição, Teixeira terá de explicar como conseguiu eliminar uma dívida de R$ 7 bilhões da Varig ¿ que ocasionou prejuízo ao erário.
¿ O doutor Roberto Teixeira tem culpa no cartório ¿ disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Ele pediu adiamento porque está querendo construir uma versão, quer combinar com os parceiros o que dizer.
As suspeitas em torno da ação de Roberto Teixeira, por conta da amizade com o presidente, foram acrescidas de acusações da parte de Marco Antonio Audi. Ele confirma que Teixeira recebeu US$ 5 milhões pelo trabalho, mas recentemente, diante de uma disputa interna que afastou os brasileiros da direção da VarigLog, ficou ao lado de Lap Chan, sócio do Matlin Patterson.
Para os governistas, como não foi apresentado nenhum documento comprovando as acusações, será uma palavra contra a outra. Os líderes alinhados do Planalto sustentam ainda que as transações relativas à transferência do controle da Varig foram feitas de maneira legítima, legal e transparente. E como não estavam fundamentadas em provas, as denúncias de Denise Abreu mostraram-se inconsistentes. Além de Teixeira e Marco Antonio Audi, devem comparecer na comissão Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel, que são sócios do fundo.