Título: Lula avisa: ninguém é intocável no governo
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 18/06/2008, País, p. A3

O desempenho do advogado Roberto Teixeira hoje na Comissão de Infra-Estrutura do Senado será determinante para afastar ou empurrar para dentro do governo a crise gerada com as revelações da ex-diretora da Agência Nacional Aviação Civil (Anac) Denise Abreu sobre suposta pressão do Palácio do Planalto no caso VarigLog. O problema em si não é se houve pressão: o que potencializa a história é a suspeita de que Roberto Teixeira estaria se aproveitando da proximidade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para obter vantagens em negócios no setor público-privado.

Em conversa recente com assessores ligados à chamada comunidade de informações do governo, o presidente Lula mandou que os órgãos policiais investiguem toda e qualquer denúncia ¿ mesmo que as suspeitas rondem compadres do porte de Roberto Teixeira. O presidente avisou que no seu governo não existem intocáveis.

O advogado e Lula se tornaram amigos às vésperas das históricas greves do ABC paulista, no final dos anos 1960. O advogado pertencia à Arena, partido que sustentava a ditadura, e Lula era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Nem pensava ainda em fundar o PT. Da amizade nasceu o compadrio de mão dupla: Lula batizou Valeska, a advogada que atuou no caso VarigLog, e Teixeira batizou Luiz Cláudio, o filho mais novo do presidente. Vem dessa relação a decisão que seria bombardeada por dirigentes do PT e que se transformaria numa espécie de calcanhar de Aquiles do hoje presidente Lula: o fato de ter morado de graça, durante quase dez anos, numa bela casa de Teixeira em São Bernardo.

Teixeira tinha outro agravante: era aliado do empresário Celso Cipriani, o homem que herdou o espólio da falida Transbrasil, e que no passado era policial de confiança do delegado Sérgio Paranhos Fleury, maior símbolo da tortura no período da repressão. Teixeira operou em todas as fases da crise envolvendo a Transbrasil.

O problema mais sério desta amizade Lula enfrentaria em 1997, num intervalo eleitoral, quando nem era candidato: as denúncias de que o advogado estaria usando seu nome para fazer negócios com prefeituras administradas pelo PT.