Título: Yeda Crusius diz que Estado não será afetado
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/06/2008, País, p. A2

Depois da demissão, Cézar Busatto fará a sua defesa.

Porto Alegre

O chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Cézar Busatto, depõe hoje espontaneamente para a CPI do Detran, da Assembléia Legislativa. De acordo com a assessoria de Busatto, ele deverá falar com a imprensa após o depoimento.

Os assessores dizem que Busatto estava preparando ontem sua defesa sobre as denúncias de suposto uso de estatais no financiamento público de campanhas eleitorais.

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), anunciou sábado a demissão de Busatto e de mais dois membros do primeiro escalão do governo, além do comandante-geral da Brigada Militar (a PM gaúcha).

Segundo a tucana, as cartas de demissão de Busatto, do ex-secretário-geral de Governo, Delson Martini, do ex-chefe do escritório do Estado em Brasília, Marcelo Cavalcante, e do ex-comandante-geral da Brigada Militar, coronel Nilson Bueno, foram apresentadas na sexta-feira.

Comportamento insólito

A mudança, a maior no primeiro escalão desde a posse de Yeda, em 2007, veio como resposta à crise política agravada na semana passada com a divulgação de grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal e de conversa gravada pelo vice-governador e inimigo político de Yeda, Paulo Feijó (DEM), em que Busatto reconhece o uso de estatais no financiamento de campanhas eleitorais.

O ex-chefe da Casa Civil, que não sabia que sua conversa com Feijó estava sendo gravada, menciona o PP e o PMDB ¿ os maiores partidos da base de Yeda ¿ como beneficiários da prática em órgãos estatais que comandam o Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) e o Detran (Departamento Estadual de Trânsito).

Depois, Busatto disse que se referia a contribuições de servidores filiados aos partidos. As duas siglas, que reúnem 18 dos 55 deputados do Estado, pressionaram Yeda pela demissão.

A governadora classificou o comportamento do vice como "indigno" e "insólito" e afirmou que a gravação "não tem valor ético ou moral".

¿ Quando alguém não sabe que estava sendo gravado, quem estava gravando pode fazer o teatro que bem quiser ¿ avaliou Yeda.

Paulo Feijó não se manifestou sobre o afastamento.

Relação com Ferst

A governadora também negou ter tomado conhecimento da carta enviada pelo empresário tucano Lair Ferst, apontado pela PF como um dos pivôs do desvio de R$ 44 milhões no Detran. Na carta, recebida por Cavalcante, Ferst descreve o funcionamento da fraude e cita sua participação na campanha de Yeda em 2006.

A governadora defendeu Cavalcante. Afirmou que a carta não trazia provas da existência do esquema no Detran. Sustentou que sua relação com Ferst é partidária.

¿ Lair Ferst é militante do PSDB. Hoje está afastado, mas esteve presente em todos os momentos como militante ¿ explicou Yeda, que não acredita que a crise tenha abalado o relacionamento com os aliados nem a confiança da população no governo. ¿ Mostrem que o povo gaúcho não confia no meu governo.

A mudança no secretariado, afirmou Yeda, não vai alterar seu modelo de gestão "baseado em resultados", mesmo com a saída de Delson Martini, que coordenava projetos prioritários do governo. Martini foi citado por acusados de participar da fraude do Detran em diálogos interceptados pela PF.

Bueno, da Brigada Militar, pediu demissão após ter sido denunciado pelo Ministério Público Militar por uso irregular de diárias.

Em pronunciamento veiculado na noite deste sábado em rádios e TVs gaúchas, a tucana defendeu sua gestão e disse, na única menção à crise, que "o desenvolvimento do Rio Grande do Sul não será afetado por ataques desleais. (Folhapress)