Título: Depoimento de pais emociona tribunal
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/02/2005, Brasília, p. D3

Família Del'Isola testemunha sobre morte de Maria Cláudia

As feridas, ainda longe de cicatrizarem, foram tocadas. E a dor de lembrar, em minúcias, tudo que Maria Cláudia Del'Isola, 19 anos, sofreu, fez seus pais chorarem. Muito emocionados, Marco Antônio e Cristina Del'Isola testemunharam, ontem, no Tribunal do Júri de Brasília, contra o casal Bernardino do Espirito Santo, 30 anos, e Adriana de Jesus dos Santos, 21 anos, acusado de, em dezembro último, assassinar barbaramente Maria Cláudia. A jovem foi espancada e morta com golpes de uma pá de jardim, dentro de sua própria casa, no Lago Sul. O corpo foi enterrado num depósito construído embaixo da escada que dá acesso ao segundo andar da mansão. Antes de matar, Bernardino, com ajuda de Adriana, violentou a universitária. O casal trabalhava para os Del'Isolas havia dois anos e, segundo Marco Antônio e Cristina, eram tratados com carinho e respeito.

Diante do juiz João Egmont Leôncio Lopes, os pais de Maria Claudia lembraram como conheceram Bernardino e Adriana, da relação com eles e do fatídico dia em que souberam que a filha caçula estava morta e enterrada dentro da própria casa.

Numa declaração com voz embargada e com o rosto marcado por lágrimas, Marco Antônio contou como, na tarde de um domingo de dezembro, ele e um policial desciam a escada onde, embaixo, Maria Claudia estava enterrada, quando o agente sentiu um cheiro que poderia ser do corpo. O policial abriu a porta do depósito e, junto com dois colegas, entrou. Marco ficou de fora. Um policial saiu e disse ''encontramos um corpo''. Em seguida, um segundo policial afirmou ''é uma mulher''. A notícia terrível foi dada pelo último policial a sair do quarto: ''é sua filha''.

Marco lembrou como os policiais tentaram impedi-lo de ver o corpo da filha. Mas ele insistiu.

- Eu toquei no corpo e nas costas o tempo suficiente para constatar que era minha filha. A partir daí, fiquei pensando o que tinha sobrado da minha família: uma esposa, que eu teria que avisar, e uma filha no hospital - contou Marco Antônio, durante um depoimento que durou cerca uma hora.

Cristina falou logo em seguida, por 1h30. Um dos momentos mais emocionantes foi quando ela lembrou o instante em que encontrou as chaves da filha dentro de casa. Naquele momento, disse Cristina, ele sentiu um pressentimento ruim. A filha não sairia sem as chaves. Isso aconteceu de manhã. À tarde descobriu-se o que havia acontecido.

Além de Marco Antônio e Cristina, um policial civil, o caseiro de uma residência vizinha e uma amiga de Maria Cláudia também testemunharam. Todos são testemunhas escaladas pela acusação. O dia em que as dez testemunhas de defesa prestarão depoimento ainda não foi marcado (LB).