Título: Cai o número de votos em branco
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 04/08/2008, Eleições Municipais, p. A11
Tendência revela maior conscientização do eleitor na hora de escolher seus representantes.
BRASÍLIA
Mesmo com todos os escândalos de corrupção, o que representa o desgaste dos políticos e das instituições representativas diante da opinião pública, o percentual de eleitores que votam nulo, branco ou simplesmente se abstém de comparecer às urnas vem diminuindo a cada eleição.
Entre as eleições presidenciais de 1998 e 2006, por exemplo, enquanto o eleitorado brasileiro cresceu em quase 20 milhões de eleitores, o número de votantes que preferiu não escolher nenhum dos candidatos concorrendo no primeiro turno do pleito caiu em mais de 8 milhões de pessoas. No Rio de Janeiro, a tendência é a mesma. O percentual de eleitores que votaram nulo ou branco, por exemplo, caiu quase pela metade entre as eleições municipais de 1996 e 2004.
¿ À primeira vista, não faz muito sentido ¿ comenta o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto. ¿ Normalmente, quanto mais descrédito os políticos e as instituições têm, e isso todas as pesquisas de opinião mostram que eles têm, maior é o estímulo para o afastamento do processo eleitoral. A tendência surpreende.
Alheamento eleitoral
A ciência política cunhou o termo "alheamento eleitoral" para enquadrar dentro de um só conceito tanto aqueles eleitores que resolvem, pela razão que seja, não comparecer às urnas no dia das eleições, como aqueles que o fazem apenas para votar nulo ou em branco.
No primeiro turno das eleições presidenciais de 1998, mais de 36% do eleitorado se enquadrou na categoria de alheamento. Ou seja, de cada três brasileiros aptos a votar para presidente, um não quis fazê-lo. Somente de votos brancos e nulos, foram 15,5 milhões. Esse percentual de alheamento cairia para 26,28%, em 2002, e finalmente para 23,7%, nas últimas eleições em 2006. No mesmo período, o percentual de votos brancos e nulos caiu pela metade.
Efeito semelhante ocorreu nas eleições municipais. Em 1996, a taxa de alheamento no Rio de Janeiro estava próxima do nível nacional, 30,21%. Quatro anos depois, nas eleições de 2000, cairia para 23,5% e, em 2004, para 21,82%.
Entendendo o papel
Para Barreto, uma das explicações prováveis para o fenômeno é a tese de que a população brasileira esteja compreendendo melhor seu papel na escolha dos representantes políticos. A descrença generalizada, nesse caso, ao invés de gerar apatia, estaria gerando maior atenção e envolvimento por parte do eleitorado no sentido de produzir escolhas mais conscientes.
A população não estaria entendendo o mal desempenho das instituições políticas como resultado de uma falha do sistema eleitoral como um todo, mas somente dos políticos que vinham sendo escolhidos por ela.
¿ Esse dado pode significar um desenvolvimento do eleitor brasileiro ¿ diz o cientista político.
Mas Barreto levanta outras teses para o fenômeno da maior participação eleitoral.
¿ O brasileiro, de maneira geral, tem muitas opções de candidatos ¿ teoriza. ¿ Não é como nos Estados Unidos ou na maior parte da Europa onde a disputa se resume a dois candidatos. E quanto maior a pluralidade de opções, maior a chance do eleitor encontrar uma alternativa que lhe agrade.
O especialista acredita que os números de abstenção e votos nulos podem estar caindo também porque muitas vezes o eleitorado desiludido com o sistema político consegue encontrar formas de se expressar dentro do próprio sistema eleitoral.
¿ Ai podem surgir eleitos aqueles candidatos caricatos que recebem votos de protesto ¿ lembra.