Título: Crise ameaça companhias aéreas
Autor: Oliveira, Wagner; Feltrin, Ariverson
Fonte: Jornal do Brasil, 04/08/2008, Economia, p. A18

Nos últimos 2 anos, mais de 20 empresas sumiram ou foram absorvidas no mundo.

SÃO PAULO

O setor aéreo, que nunca foi para amadores, agora não está fácil nem para especialistas. O preço do petróleo nas alturas atordoa executivos da aviação comercial e derruba receitas e lucros em todo o mundo. Estão no ar novas fusões e ameaças de extinções. Na América do Sul, a crise pode tirar mais algumas empresas do céu. Aéreas brasileiras também podem embicar, puxadas pela perversa combinação de combustível caro, altas taxas aeroportuárias, impostos e malha aeroportuária deficiente.

A turbulência pode terminar no mesmo hangar onde enferrujam restos da Transbrasil, Vasp, BRA, entre outras que deixaram de voar por fatores que incluem ainda incompetência administrativa, planos econômicos malsucedidos, desmandos, inchaço e desfalques financeiros.

Cerca de 70 altos executivos representando mais de 30 companhias aéreas já se inscreveram para a Conferência de Preparação para Crises de Aviação, de 10 e 12 de setembro, em Miami. O encontro pretende municiar executivos com as ferramentas e informações para enfrentar problemas nos céus.

¿ Nós, como um setor, precisamos estar preparados para responder e gerenciar de forma eficaz uma ampla gama de situações de crises. Afinal, não se trata se uma crise ocorrerá, mas sim de quando ela vai chegar ¿ disse o diretor-executivo da Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo (Alta), Alex de Gunten.

Entre as empresas aéreas, já confirmaram presença Aerolineas Argentinas, Aeromexico, Air Canada, Delta Connection, Avianca, DHL, Emirates Airlines, Iberia e TAM.

Dados da Iata (Organização Internacional do Transporte Aéreo, na sigla em inglês) apontam que as empresas aéreas devem gastar neste ano US$ 176 bilhões com combustível ¿ US$ 40 bilhões a mais em relação à despesa com este item em 2007 em razão da alta do petróleo. Com isso, o combustível passa a ser o principal componente, representando de 34,6% na planilha ¿ em 2000, o item respondia por 14,5% do custo total da aviação mundial.

Ainda de acordo com informações da Iata, mais de 20 empresas desapareceram ou foram incorporadas nos últimos dois anos. Até a Suíça, um dos países mais organizados do mundo, teve de reestruturar a aérea Swissair.

Com operações que envolvem grande volume de capital e baixo patrimônio, as aéreas dependem de assentos cheios e alta eficiência para manter a sobrevivência. A forte concorrência obriga operações com o melhor aproveitamento e sinergia, além de aumento de tarifas.

A crise do petróleo chega num instante em que as companhias se preparavam para melhorar ganhos nas operações internacionais. Desde o 11 de Setembro, as empresas amargaram prejuízo de US$ 40 bilhões. Em 2006, a maioria voltou para o azul, mas ainda distante do lucro possível. A alta do petróleo joga balde de água fria, forçando empresas a buscarem novas saídas.

¿ Com o preço do combustível nas alturas, a conta não fecha ¿ afirmou o consultor Ozires Silva, que vivenciou a crise da Varig ao presidir a empresa em plena crise. ¿ Com a competição, que força as tarifas para baixo, as empresas vão precisar de muita competência para manterem suas operações saudáveis ¿ afirmou. No Brasil, Ozires Silva diz que o quadro é agravado pelas altas taxas e impostos. ¿ As aéreas daqui já pagam o dobro do combustível em relação às concorrentes estrangeiras. O governo poderia reduzir o imposto para compensar o impacto do reajuste de combustível.