Título: Popularidade alta apesar da crise
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, País, p. A3

A percepção do eleitor comum passou ao largo da derrota sofrida pelo governo no Congresso, com a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara, e das análises sobre o difícil momento político vivido pelo PT e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra a pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem. A projeção de um cenário eleitoral mostra Lula como candidato imbatível à reeleição em 2006, se o pleito fosse hoje.

O presidente aparece em primeiro lugar em cinco simulações de primeiro turno e nas hipóteses de segundo turno contra possíveis candidaturas de Anthony Garotinho (PMDB), Aécio Neves (PSDB), César Maia (PFL), Geraldo Alckmin (PSDB), Tasso Jereissati (PSDB), José Serra (PSDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Serra continua sendo apontado como o adversário mais combativo do presidente, com 29,9% das intenções de voto contra 52% de Lula, mas obtém menos votos do que o alcançado em 2002, na disputa com Lula pela presidência - na ocasião, o resultado foi de 57,3% contra 36,4%.

A avaliação da população sobre o governo Lula se manteve estável. A pequena queda observada na avaliação positiva do governo, de 44,5% para 42,6% entre dezembro de 2004 e fevereiro deste ano, está dentro da margem de erro da pesquisa, de três pontos percentuais.

Na análise do presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade, o carisma pessoal de Lula e o bom momento da economia são os responsáveis pela estabilidade da percepção positiva da população sobre o governo federal. O presidente obteve aprovação de 66,1% dos entrevistados, um percentual também considerado estável em comparação ao índice de 65,4% alcançado em dezembro de 2004. O levantamento abordou 2 mil pessoas, entrevistadas em 195 municípios de 24 estados.

A estabilidade na avaliação do governo e do presidente contrasta com o resultado do Índice de Satisfação do Cidadão (ISC), que nesta rodada alcançou 52,95%, o percentual mais alto desde a posse de Lula e o segundo maior da série histórica do ISC, apurado pela primeira vez em 1998.

- O natural seria que a avaliação sobre o governo acompanhasse o ISC. Se isso não está acontecendo, é efeito de uma percepção negativa sobre outras questões da administração federal, como a dificuldade do governo com a área social - acredita Clésio Andrade.

Segundo ele, fatores como a alta dos juros e a Medida Provisória 232, que eleva a carga tributária para prestadores de serviço, não tiveram impacto sobre a opinião popular. Mas poderão afetar negativamente a avaliação de Lula no futuro, caso o arrocho monetário comece a surtir efeitos ruins nas finanças pessoais da população.

A maior inquietação do brasileiro continua sendo a geração de emprego, com 48,4% dos entrevistados respondendo que esta seria a política pública de maior urgência no governo federal. Entretanto, esse percentual é mais baixo do que o verificado no final de 2004, de 53,3%, o que traduz o impacto do aumento do nível de emprego da população. Em segundo lugar vem o combate à fome, com 15,5% e em terceiro o combate à violência, com 13%.