Título: Encontro para apagar o passado
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2008, Economia, p. A17
Após divergências na Rodada Doha, Brasil e Argentina tentam unificar discurso em Buenos Aires.
Buenos Aires
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner buscaram ontem unificar a mensagem comercial ao mundo depois do curto-circuito entre os dois países na fracassada negociação da Rodada Doha.
Os dois presidentes abriram um seminário com três centenas de empresários argentinos e brasileiros e os convocaram a se associarem para investir e aproveitar a crescente demanda mundial por bens agroindustriais que a região produz.
O Brasil tentou até o último instante que a fracassada Rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) culminasse com um acordo que abriria o setor industrial de países menos desenvolvidos, mas a negativa de outros países, como a Argentina, acelerou o fracasso da negociação.
A Argentina considerou que era limitada a contrapartida oferecida pelos países ricos na abertura de seus mercados agropecuários. O jornal La Nación chegou a chamar o governo brasileiro de "traidor".
Empresários temiam recepção
Os pelo menos 260 empresários brasileiros que compareceram ao seminário Argentina-Brasil: uma aliança produtiva chave, em Buenos Aires, temiam que as divergências entre os dois países em relação à Rodada Doha pudessem refletir negativamente sobre as conversas travadas no evento, mas o temor se provou infundado, segundo o porta-voz da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ricardo Viveiros.
¿ A nossa visão é de que o encontro foi extremamente positivo. O objetivo foi quebrar todas as barreiras, para facilitar as coisas para os dois países, inclusive na visão do Mercosul. A intenção foi de somar para crescer ¿ disse o porta-voz ao JB.
Lula deu o capítulo Doha por encerrado e tratou de mirar nas oportunidades futuras.
¿ Os subsídios dos países ricos encarecem os alimentos e inibem os investimentos em países com vocação agrícola. Mas há também um fator positivo: dezenas ou centenas de homens e mulheres passaram a se alimentar melhor em todo o mundo, sobretudo em nossos países ¿ disse o presidente.
¿ A frustração da Rodada Doha exige que multipliquemos em outros cenários nossos esforços para eliminar as distorções e barreiras ao comércio internacional. Argentina e Brasil podem liderar a resposta do Mercosul e da América do Sul a esses desafios ¿ acrescentou.
A presidente argentina concordou com Lula que a região não pode desperdiçar este momento em que a situação do comércio internacional pode beneficiar os países menos desenvolvidos.
¿ Há momentos em que estamos sentindo que pela primeira vez somos mais necessários que os países desenvolvidos. Isso deve proporcionar uma sinergia diferente entre Argentina e Brasil, aprofundando essa aliança e esse modelo produtivo ¿ disse Cristina.
Apesar da convergência com Lula, ela reiterou a posição argentina na Rodada Doha e disse que é necessário "ter a certeza e a convicção de que quando abordemos negociações de caráter multilateral temos que ter claro sempre (...) o que nos é proposto pelo outro lado e o que nós teremos que dar".
Lula e Cristina seguiram para a Casa Rosada, onde tiveram reunião bilateral. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou ao local no início da tarde, e se reuniu com os outros dois mandatários.
Lula e a colega argentina participaram do seminário como parte do Encontro empresarial binacional para o desenvolvimento de estratégias de cooperação e articulação produtiva.
O seminário foi organizado pela chancelaria argentina, o Ministério da Planificação Federal e a Secretaria de Indústria, com colaboração da União Industrial Argentina (IUA) e da Fiesp.