Título: Mantega: valorização do real já está no limite
Autor: Lorenzi, Sabrina; Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2008, Economia, p. A18

A valorização do real frente ao dólar está quase no limite do que a economia pode suportar. ¿Se for mais adiante, estamos perdidos ¿ disse, ontem, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Apesar de afirmar que o câmbio valorizado é ruim para alguns setores, o ministro disse que a desvalorização da moeda americana ajuda no combate à inflação.

¿ A valorização (do real) ajudou a reduzir o ímpeto inflacionário ¿ analisa o ministro, lembrando que só em 2006 a cotação do real frente ao dólar atingiu o mesmo patamar de 1999. Segundo ele, o real está se valorizando desde 2003, quando o presidente Lula assumiu com o câmbio entre R$ 3,5 e R$ 4.

O ministro avaliou que o choque das commodities está "amainando". De acordo com ele, os preços atingiram o seu máximo e, agora, já mostram sinais de desaceleração.

¿ Claro que não posso afirmar que isso será permanente, mas é boa a probabilidade ¿ disse e deu como exemplo mais evidente a trajetória descendente do preço do petróleo. Além disso, comentou que os alimentos também vêm apresentando queda. A inflação mundial nos atinge e soma-se a isso o aquecimento da economia brasileira, que vem apresentando expansão superior a taxas históricas.

Para ele, estes dois pontos ¿ inflação mundial e aquecimento doméstico ¿ proporcionam um certo risco da difusão da inflação, que já existe por meio da alta das commodities:

¿ Essa é uma preocupação nossa: impedir que haja uma difusão da alta dos preços.

Na avaliação do ministro, a demanda doméstica cresceu além dos limites da sustentabilidade da economia brasileira, fechando 2007 com alta de 7,1%, acima do PIB do período, de 5,4%.

¿ De fato, a demanda doméstica aqueceu um pouco além do desejado ¿ considerou.

Mantega insistiu na tese de que o principal vetor da inflação é o segmento de alimentos e bebidas.

¿ Isso é incontestável. Fica difícil, como alguns querem fazer, desmentir que o principal fator de alta da inflação brasileira são os alimentos ¿ disse, ao lembrar que que o IPCA de 12 meses estava em 6,06%, enquanto a inflação dos alimentos acumulava alta de 15,79%.