Título: Delfim e Bresser unidos em duras críticas à ação do BC
Autor: Lorenzi, Sabrina; Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2008, Economia, p. A18

A política de juros e metas de inflação do Banco Central esteve sob fortes ataques, ontem, em São Paulo, especialmente por parte de dois ex-ministros da Fazenda, Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser Pereira, durante seminário na Fundação Getúlio Vargas.

Para Delfim, com a política monetarista do BC, o Brasil torna-se o último "peru com farofa na mesa dos especuladores internacionais, fora no Dia de Ação de Graças".

Já Bresser Pereira classificou de "suicida e alucinada" a política cambial do Brasil, o que, no seu entender levará a uma crise de pagamentos em dois ou três anos".

Bresser também disse não acreditar que o mercado possa ajustar os valores caso o dólar venha se apreciar, por conta da taxa atrativa de juros para especuladores estrangeiros.

Para Bresser, a atual política cambial segue exemplos de governos populistas. O ex-ministro afirmou que a valorização do real favorece os gastos dos brasileiros. ¿ É populista porque os salários reais aumentam e todo mundo vai para Paris. Nem para Miami vão mais ¿ afirmou.

Infantilidade

Delfim Netto classifica de infantil a atitude do governo brasileiro de se antecipar com o aumento dos juros, sendo que a inflação é internacional.

¿ O efeito principal dessa medida é a valorização do câmbio. A inflação vem de fora, não tem nada a ver com as taxas de juros brasileiras. Mais eficaz seria aumentar o esforço fiscal, cortando principalmente a demanda do governo ¿ afirmou Delfim.

Continuando no tom crítico, Bresser Pereira disse que o Brasil não está no ciclo de desenvolvimento sustentável da economia, e o governo Lula pratica uma "política boa" apenas para os problemas conjunturais de curto prazo.

¿ Este governo não está sendo capaz de resolver o problema de médio prazo ¿ afirmou.

Teste de fogo

Paralelamente, a professora Marise Fahri, catedrática do Instituto de Economia da Universidade de Campinas, afirmou que Banco Central brasileiro é o mais ortodoxo do mundo e dificilmente conseguirá manter a meta de inflação em 4,5%, a não ser que promova drástica redução no nível de desenvolvimento e elevação de juros além do que vêm prevendo os mais pessimistas:

¿ Vamos ver um teste de fogo para a política de metas. Minha impressão é de que a meta de 4,5% só poderá ser mantida baixando-se a taxa de crescimento para 1,5%, com juros entre 18% e 19%.

¿ Para eles, toda e qualquer inflação é de demanda, que só pode ser combatida mediante alta de taxas de juros, taxas essas que são fixadas em boa parte a partir de expectativas do mercado, sem participação de qualquer analista de sindicatos de trabalhadores e mesmo patronais ¿ concluiu a professora.