Título: Meirelles admite recuo da inflação
Autor: Lorenzi, Sabrina; Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2008, Economia, p. A18
Presidente do BC fala que preços começam a ceder, mas logo diz ser prematuro avaliar efeito do juro.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a inflação começou a ceder, mas, em seguida, disse que é prematuro avaliar os efeitos do aumento dos juros neste processo. Com a peculiar cautela que marca suas palavras, Meirelles falou do "início de um efeito que começa a acontecer".
Logo depois, em entrevista coletiva realizada durante o X Seminário Anual de Metas para a Inflação, declarou que ainda é cedo para falar no fim do repique das commodities e dos reflexos da política monetária.
¿ Temos tomado uma série de medidas visando a que a inflação convirja para as metas. Essas medidas já datam de algum tempo. Existe um processo de defasagem, existe um início de um efeito que já começa a acontecer, é crescente e vai dando resultado ¿ disse, ao ser indagado se o pior da inflação já passou.
Quando a pergunta foi sobre os efeitos da política monetária na inflação, Meirelles respondeu que o importante é o centro da meta, no próximo ano.
¿ É prematuro ainda dizer até que ponto já existe reflexo. O importante é o centro da meta (em 2009).
Por meio de sua assessoria de imprensa, após o evento, disse que não houve contradição entre uma resposta e outra e sim que "estava falando empiricamente", sobre hípóteses e não especificamente sobre a conjuntura atual.
¿ Não há contradição. Prematuro entretanto afirmar que as quedas nas projeções de inflação de 2008 e 12 meses à frente já refletem as ações do Banco Central.
Com queda na inflação ou não, o fato é que o presidente do Banco Central afirmou que o alvo não está nos índices de preços atuais, mas na inflação de 2009. Lembrou que uma das prioridades do presidente Lula é combater a alta dos preços e que o BC vai perseguir o centro da meta no ano que vem, de 4,5%.
Para o presidente do Banco Central do Brasil, a instituição fará uma "atuação vigorosa" para reverter as pressões inflacionárias e trazer a inflação de volta para a meta central.
Regime de metas
Meirelles defendeu, na abertura do seminário, a importância do regime de metas de inflação.
¿ Não é uma panacéia econômica e não se pode esperar que, por si só, resolva problemas microeconômicos, estruturais ou setoriais ¿ admitiu. Mas considerou o seu questionamento precipitado e equivocado. ¿ O regime é particularmente apropriado para lidar com episódios de aceleração inflacionária como a atual.
Durante a mesma coletiva, Meirelles disse que qualquer ajuda no combate à inflação é positiva, horas após o ministro Guido Mantega afirmar que poderá aumentar o esforço fiscal. Para o líder do Banco Central, com o regime de metas de inflação a taxa de juros não deve promover o equilíbrio do balanço de pagamentos.
¿ Essa é uma função exercida com muito mais eficiência pela taxa de câmbio ¿ explicou. Meirelles defendeu, ainda, a flutuação da taxa do câmbio para promover o equilíbrio externo da economia brasileira. Para ele, o Brasil já foi um laboratório de experimentos de métodos heterodoxos para o controle da inflação: "Os resultados foram devastadores".
O evento contou ainda com expoentes internacionais como Stanley Fischer, que ostenta em seu currículo o cargo de chefe do banco central de Israel, além de posições como a vice-presidência do conselho de administração do Citigroup, a presidência do Citigroup e a chefia do departamento de Economia do prestigioso Massachusetts Institute of Technology (MIT). Para ele, o Brasil deixou de ser o país do futuro. "Agora é um dos países do momento", garantiu.
Para o professor, que influenciou uma geração de economistas, o Brasil soube fazer o que chamou de "gestão de crise bem feita" há alguns anos, quando sofreu pressões cambiais e dificuldades com a rolagem da dívida.