Título: Exército na rua para combater o crime
Autor: Gerk, Cristine
Fonte: Jornal do Brasil, 05/08/2008, Internacional, p. A21

Repressão faz parte de pacote de segurança que endurece medidas contra imigrantes ilegais.

Mais de mil soldados tomaram as ruas da Itália ontem para ajudar a polícia no combate à criminalidade. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, propôs a medida como parte de um pacote de segurança que enrijece a repressão aos imigrantes ilegais, associados pelo governo ao crime. A polêmica iniciativa foi criticada por muitos que a consideraram um golpe de publicidade e de xenofobia.

A mobilização dos soldados, que logo devem somar 3 mil, oferece a manobra mais visível adotada pelo governo até agora em uma campanha de combate ao crime instituída pelo premier, eleito em abril prometendo fazer da Itália um lugar mais seguro. Os militares foram enviados para Roma, Milão, Turim e Palermo com ordens de patrulharem as ruas ao lado de policiais e de ajudarem a proteger os locais "delicados", incluindo o Duomo de Milão, embaixadas e consulados.

Em Roma, cerca de 400 soldados já estão nas estações de metrô e de trem, e num centro de imigrantes. No mês passado, o Parlamento Europeu acusou a Itália de perseguir as populações ciganas, depois de a cidade criar um censo dos ciganos, deslocando pessoas e prendendo os moradores irregulares.

Os visitantes da capital italiana, no entanto, não verão os militares em monumentos famosos como o Coliseu ou o Panteão. O prefeito de Roma havia reclamado que a presença de soldados com armas à mostra poderia afastar os turistas.

A iniciativa terá validade de seis meses, quando serão avaliados os resultados e se decidirá sobre a prorrogação. Achille Serra, ex-prefeito de Roma, descreveu a manobra como inútil e ineficiente:

¿ Não estamos em Beirute. Fico me perguntando o que um soldado poderá fazer no caso da invasão de uma casa ou de um roubo.

Já o ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, argumentou que a presença das Forças Armadas seria suficiente para, por si só, desencorajar os criminosos:

¿ O mero fato do Exército estar nas ruas é dissuasivo.

Brasil

Silvia Ramos, especialista em segurança do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, considera a manobra "pirotécnica". Segundo a analista, no Brasil há resistência federal em adotar a medida e o governo estadual não tem poder de decisão. O Conselho Nacional de Segurança e o ministro da Defesa precisam aprovar a medida, e na grande maioria das vezes não o fazem.

¿ Medidas como essa só produzem segurança se integradas numa rede sustentável de planejamento, inteligência, patrulhamento em áreas específicas, conexão com a polícia. A simples idéia de Exército na rua tem visibilidade, mas pouca eficácia ¿ opina Silvia. ¿ Vimos como isso é ineficaz e perigoso aqui no Rio no episódio do morro da Providência.