Título: Crise dificulta escolha de líder
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, País, p. A4

A bancada do PT, ainda traumatizada com a derrota na eleição para a Mesa Diretora da Câmara, reuniu-se ontem para eleger o novo líder do partido na Casa. O único candidato oficial, com o apoio do chamado campo majoritário do partido, foi o deputado Paulo Rocha (PT-PA). Mesmo assim, o parlamentar teve que costurar o apoio para garantir sua eleição que, até o início da noite de ontem, não estava confirmada. A esquerda petista apresentou um documento propondo um perfil de líder ideal. Integrantes do campo majoritário concordaram em negociar e reuniram-se para, a partir da plataforma apresentada, elaborar um documento de comum acordo.

Os parlamentares da esquerda petista sustentaram que o momento requer cautela, diálogo, para que a bancada não repita os erros cometidos na escolha do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para disputar a presidência da Câmara. O deputado Ivan Valente (PT-SP) lembrou que o novo líder precisa ter bom trânsito entre todos os partidos, ser independente do Planalto e discutir com a bancada a agenda política do governo.

- Além disso, queremos acabar com as panelinhas nas comissões e relatorias. Sempre os mesmos parlamentares são escolhidos para presidir comissões ou relatar projetos importantes - criticou.

Paulo Rocha tratou de articular apoios ao seu nome antes mesmo de a reunião ter início. Enquanto Arlindo Chinaglia (PT-SP) repassava informes sobre a reunião de líderes ocorrida na presidência da Câmara, pela manhã, Rocha debruçou-se na bancada de madeira para conversar ao pé do ouvido com o deputado Chico Alencar (PT-RJ), na tentativa de vencer as resistências ao seu nome.

- O que nós queremos é colaborar na construção deste processo de escolha - tentou justificar Maninha (PT-DF).

Chinaglia voltou a criticar os parlamentares que apontavam restrições ao nome de Paulo Rocha no campo majoritário sem, contudo, apresentarem-se como opção para concorrer ao cargo. A mesma queixa foi feita por deputados da esquerda, acrescentando que ''até poderiam apoiar outro nome, mas ninguém se lança como alternativa''.

Valente chegou a insinuar que este movimento cauteloso poderia estar atrelado à escolha do presidente da Comissão de Constituição e Justiça, que, pelo critério da proporcionalidade, cabe ao PT indicar. As indicações para as comissões permanentes também foram discutidas na reunião de ontem.

- Se isto estiver de fato acontecendo, está havendo uma inversão do processo. Não aceito que algum deputado não se lance ou não se manifeste na escolha do líder de olho em uma presidência de Comissão - criticou Chinaglia.

Ausente das reuniões da bancada na semana passada, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) finalmente reapareceu ontem. Justificou seu sumiço na semana passada, alegando que ''queria deixar os companheiros da bancada à vontade para debater a eleição da Câmara''. Deu um aperto de mão rápido e constrangido em Greenhalgh, garantiu que a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) é fruto dos erros do governo e do partido e que, por isso, não lhe causou qualquer surpresa. E desmentiu qualquer boato de que sairia do partido.

- Sair por quê? As pessoas têm que entender que as regras do jogo são claras. Eu é que até hoje não entendi porque escolheram o nome do Greenhalgh - alfinetou.