Título: Lula: Brasil não é ''terra de ninguém''
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, País, p. A5
Em um discurso recheado de críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem, a apontar empresários do setor madeireiro como responsáveis pelos assassinatos ocorridos na semana passada no interior do Pará, entre os quais o da freira Dorothy Stang. - Foi uma atitude pensada de alguns empresários do setor madeireiro.
Segundo o presidente, a atual onda de mortes no estado motivadas por conflitos agrários, rotulada por ele como uma ''desgraça'', fez com que o governo assumisse as ''dores'' dos trabalhadores rurais. E prometeu:
- Quem tiver terra grilada, o governo vai tomar conta. O Brasil não é terra de ninguém. Este país tem governo, tem lei, e a lei vale para o presidente e vale para um pistoleiro.
Lula esteve ontem pela manhã em Sidrolândia (MS), onde participou da inauguração da rede de eletrificação em assentamentos rurais do Estado. Usando uma camiseta e um boné do programa federal Luz para Todos, o presidente falou, por meia hora e de forma improvisada, para cerca de 2 mil trabalhadores rurais assentados e acampados da região.
- A morte dos sindicalistas e da freira, no estado do Pará, não foi por acaso e é importante que o povo compreenda. Foi uma atitude pensada de alguns empresários do setor madeireiro, que estão revoltados com a política que estamos fazendo no Pará.
Segunda-feira, em seu programa quinzenal de rádio, Lula, num tom mais brando, já havia atacado os madeireiros, chamando os empresários do setor de ''reacionários'' e ''conservadores''. E, tanto no rádio como em sua fala de ontem, creditou o atual recrudescimento dos conflitos no Pará à ''revolta'' dos empresários diante das ações do governo federal na área ambiental.
No discurso de ontem, Lula afirmou que o primeiro objetivo, o de prender os assassinos, já foi alcançado. Agora, diz, o foco está nos mandantes.
- Os madeireiros podem saber que a morte da freira, em vez de colocar o governo recuado, vai colocar o governo mais ativo. E vamos fazer o que tem de ser feito, a impunidade acabou. Agora queremos chegar ao mandante, porque queremos acabar com essa história de empresários, alguns empresários, é verdade, comprarem glebas de terras de milhares de hectares em algumas regiões mais distantes do nosso país, contratarem jagunços e mandarem matar quem está lá organizado, como estavam os trabalhadores rurais.
De acordo com o presidente, não há prazo para que deixem o Pará os cerca de 2 mil homens do Exército enviados ao estado na semana passada numa tentativa emergencial de o governo responder aos assassinatos.
Lula não poupou nem os governadores com suas críticas. Disse que muitos deles mudaram o nome do programa Luz para Todos e colocaram o nome deles ''para vender para a sociedade a idéia de que o programa era deles. Tem outros que vão mais devagar porque acham que não podem ser bem rápidos para não favorecer o presidente Lula''.