Título: China, a cizânia entre Bush e Chirac
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, Internacional, p. A8

Clima de confraternização entre os EUA e a Europa é manchado pela polêmica sobre o embargo à venda de armas a Pequim

AFP O presidente americano e o da França, Jacques Chirac, voltaram a divergir

BRUXELAS - O presidente George Bush afirmou ontem em Bruxelas que os Estados Unidos estão profundamente preocupados que os países da União Européia (UE), em especial a França, possam transferir tecnologia militar para a China.

Bush explicou que discutiu com os líderes francês e britânico a perspectiva de a UE levantar o embargo na venda de armas a Pequim, imposto pelos países ocidentais desde o massacre da Praça Celestial, em 1989. As duas nações buscaram assegurar que têm um plano para evitar as transferências de tecnologia.

- Há uma grande preocupação de que a venda de armas seja uma transferência de tecnologia, o que vai mudar a balança de relações entre China e Taiwan - disse o presidente dos EUA, após a reunião com os líderes da Otan, a aliança militar do Ocidente.

George Bush afirmou que a UE terá que convencer o Congresso americano de que os temores são infundados. Preocupados que o fim do embargo de 15 anos coloque as forças dos EUA na Ásia em perigo, os parlamentares ameaçaram com restrições, em defesa, se o bloco suspendesse a proibição.

Por sua vez, o presidente da França, Jacques Chirac, disse que a UE pretende levar adiante os planos de suspender o embargo. Afirmou, ainda, que não há mais justificativa para a proibição e lembrou que aliados americanos como o Canadá e a Austrália não fazem restrições à venda de armas a Pequim. Chirac prometeu que a UE vai assegurar que o fim da proibição não altere o equilíbrio na Ásia.

- Esta viagem é uma excursão para ouvir - disse Bush sobre a visita de cinco dias que faz à Europa. - As pessoas têm idéias em mente e querem que eu as ouça. Parte disso é o diálogo entre China e UE.

A UE prometeu, em uma cúpula com a China em dezembro, trabalhar para a suspensão do veto. A França é a mais interessada no mercado chinês e Chirac, não à toa, é o mais empenhado. No entanto, até mesmo a Grã-Bretanha apóia o fim da proibição. O premier irlandês, Bertie Ahern, disse, no mês passado, acreditar que o embargo acabe até meados deste ano.

A China afirma que o principal motivo para o fim da proibição é a injustiça que a medida representa para as relações internacionais do país.

- Trata-se de um sócio estratégico da UE e queremos eliminar os últimos obstáculos, mas em um espírito de responsabilidade para poder suspender o embargo - disse Chirac.

O presidente francês também afirmou que não crê que os europeus tenham feito concessões especiais para melhorar as relações com os EUA. A declaração foi dada entre a cúpula da Otan e a reunião de líderes da União Européia e dos EUA, em Bruxelas.

- Bush expressou claramente a vontade de reforçar uma verdadeira cooperação mútua - emendou Chirac, acrescentando que a ocasião é propícia para que a UE siga em frente nas políticas comuns de Relações Exteriores e de Defesa, essenciais para o fortalecimento da diplomacia européia.

- Os EUA tomaram consciência da realidade da UE de forma mais clara e o presidente Bush indicou que quer uma verdadeira associação e discussão, com uma visão mais realista que no passado.

Nas ruas da capital belga, um forte esquema de segurança impediu que manifestantes se aproximassem do local do encontro de cúpula.

Bush aproveitou a reunião da Otan para negar que pretenda invadir militarmente o Irã.

- A idéia de que eu estaria preparando um ataque por causa das ambições nucleares do Irã é ridícula - acrescentou, apoiando os esforços diplomáticos europeus junto à Teerã.

Mais tarde, a UE e os EUA pediram em conjunto a ''aplicação total e imediata'' da resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, que exige a retirada das tropas sírias do Líbano.