Título: Xiitas anunciam candidato a premier
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, Internacional, p. A9

Ibrahim Al Jaafari, religioso e chefe do Partido Dawa, leva vantagem na disputa com Allawi

BAGDÁ - A principal coalizão de partidos xiitas do Iraque, a Aliança Unificada Iraquiana (AUI), apresentou ontem Ibrahim Al Jaafari como candidato ao cargo de premier. O religioso xiita e chefe do Partido Dawa (islâmico) deve conseguir ser nomeado, já que a AUI conquistou a maior parte dos votos para a Assembléia Nacional, na eleição geral de janeiro. Jaafari conseguiu a nomeação partidária depois que o maior concorrente, Ahmad Chalabi, no passado um importante aliado dos EUA dentro da coalizão, retirou a candidatura.

- A decisão foi tomada pela unanimidade de 140 votos, apesar da presença de outras personalidades capazes de assumir esta tarefa, como Adel Abdel Mehdi, Hussein Shahristani e Chalabi - afirmou Abdel Aziz Hakim, chefe do principal partido xiita, o Conselho Supremo da Revolução no Iraque (CSRII), e um dos líderes da AUI.

No entanto, o político de 58 anos ainda terá que disputar o cargo com o atual premier, Iyad Allawi. Mas como a lista encabeçada por Allawi conquistou apenas 14% dos votos, sua permanência está enfraquecida. A lista de Jaafari teve 48% - o suficiente para deter uma maioria simples na Assembléia Nacional - e insiste em ficar com o cargo.

O próximo líder será nomeado por unanimidade por um conselho presidencial, cujos três membros - um chefe de Estado e dois vice-presidentes - deverão ser escolhidos por dois terços do Parlamento.

Chalabi sustentou que retirou a candidatura para ''preservar a unidade da aliança'', e classificou a nomeação de Jaa fari como uma ''vitória para o Iraque e para a chapa da AUI''. Se escolhido, o líder do Dawa já tem prioridade: a segurança.

- Os interesses do Estado estão ameaçados pela insegurança, que paralisa a reconstrução do país. Vou aumentar os efetivos, a eficiência e os recursos.

Ele criticou ainda as ''intromissões'', neste âmbito, por parte de países que fazem fronteira com o Iraque.

- Desejamos a coexistência pacífica com nossos vizinhos, baseada no respeito da soberania e na não-ingerência em assuntos internos. Estes são preceitos básicos da lista da AUI - concordou Shahristani.

O candidato derrotado considerou prematuro o estabelecimento de um cronograma para a retirada das forças estrangeiras, exigido pelo Comitê dos Ulemás, a principal organização religiosa sunita, como condição para uma eventual participação na transição.

- Quando as forças de segurança iraquianas estiverem prontas, pediremos às estrangeiras que abandonem o Iraque - afirmou.

Abdel Mehdi, membro do CSRII, se mostrou conciliador sobre os esforços empreendidos para associar os sunitas, que em maioria se abstiveram das eleições e, portanto, são pouco representados na Assembléia.

- Sempre defendemos o princípio de diálogo e da participação de todos - frisou.

- O Comitê dos Ulemás e outros movimentos sunitas são parte integrante do povo - emendou Jaafari. - Só não concordamos quando contestam a validade das eleições. A legitimidade vem do povo, e o povo desafiou o perigo para votar.