Título: Lula diz não ao FMI
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, Economia, p. A17

Presidente afirma que país não precisa de acordo

Folhapress

CAMPO GRANDE (MS) - Depois do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi a vez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desdenhar o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem, durante discurso em Campo Grande, o presidente disse que o Brasil ''não precisa'' renovar o acordo que tem com o fundo, que vencerá em 31 de março.

Lula disse que seu segundo ano de governo foi bom porque ele ''teve a sorte'' de a economia crescer 5%. E sinalizou que está cada vez mais distante a tendência de o Brasil renovar o acordo com o FMI.

- O Brasil passou oito anos tendo déficit na balança comercial. Tinha que tomar dinheiro emprestado do FMI para saldar seus débitos. Agora não. Nós não precisamos do dinheiro do FMI - afirmou Lula.

No último dia 10, Antonio Palocci já havia afirmado que, nas atuais condições da economia, o país não precisa renovar acordo com o FMI. No entanto, a decisão final só será anunciada em março, quando vencer o presente acordo com o organismo internacional.

Na previsão do presidente, a economia atingirá um crescimento de, no mínimo, 5% neste ano.

- Fazia 10 anos que a economia brasileira não crescia 5%. Geramos em 2004 o maior volume de empregos neste mesmo período. A indústria brasileira não crescia tanto desde 1986. Eu garanto: vamos crescer de novo 5% - disse Lula, que prevê ainda investimentos no país de US$ 25 bilhões nos próximos cinco anos.

Segundo ele, as exportações vão atingir US$ 100 bilhões neste ano.

- É o recorde dos recordes de toda a história do Brasil, se formos comparar exportações em relação ao PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas do país) - afirmou o presidente.

Lula aproveitou a oportunidade para sair em defesa de suas viagens ao exterior, alegando que são feitas para fechar acordos comerciais e não apenas para que ele próprio receba títulos. E usou o crescimento das vendas ao mercado externo para justificar as incursões.

- Vários setores empresariais, que tinham exportado pouco, começam a exportar muito. Por quê? Porque nós viajamos neste mundo vendendo as boas coisas que o Brasil produz - discursou Lula, para uma platéia de cerca de 1.400 pessoas no Palácio Popular da Cultura, durante o lançamento do projeto de construção do pólo siderúrgico de Corumbá (a 418 quilômetros da capital Campo Grande).

- Nós não viajamos para pedir favor. Eu não viajei para receber títulos. Onde fui, levei um monte de empresários para vender nosso calçado, a nossa roupa - afirmou Lula.

Em relação aos laços com a América do Sul, Lula afirmou que o Brasil ''não quer ser um país rico com vizinhos na miséria absoluta''. Segundo o presidente, a relação comercial com os países do continente sul-americano já aumentou 80% durante o seu governo.