Título: Vale: minério 71% mais caro
Autor: Patrícia Nakamura e Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2005, Economia, p. A18

Mineradora surpreende analistas e siderúrgicas européias prometem resistir a aumento

O aumento de 71,5% no preço do minério de ferro comercializado à Nippon Steel, anunciado ontem pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), abre com calor as negociações entre as mineradoras e as principais siderúrgicas mundiais. O reajuste recorde também transformou a Vale, pela primeira vez na história, num importante balizador do mercado japonês, o segundo maior produtor de aço do mundo.

- Nos últimos 30 anos, a Vale era referência para os preços praticados pelas siderúrgicas européias, enquanto a australiana BHP Billiton estabelecia patamares para as usinas do Japão - afirmou a Merrill Lynch em relatório distribuído a investidores. Na opinião de analistas, BHP e a inglesa Rio Tinto deverão fixar reajustes semelhantes aos da Vale em seus próximos contratos.

A negociação entre Vale e Nippon foi o primeiro fechado neste ano e vigorará a partir de abril, início do ano fiscal japonês. Serão 7 milhões de toneladas do insumo, ao preço médio de US$ 28 por tonelada. Desde o começo de 2005, a Vale defendia um reajuste de pelo menos 90% de seu minério, alegando ''defasagem nos preços do minério praticados nos últimos dois anos''. O aumento de 71,5% impressionou o mercado, que projetava percentuais entre 22% e 35%.

Horas depois do anúncio, a européia Arcelor, segunda maior siderúrgica do mundo e principal cliente da mineradora brasileira, rechaçou o aumento. Em comunicado, informou que ''o reajuste de 71,5% não condiz com o padrão do mercado'' e que continuará negociando ''outros níveis de preço''. Faz assim coro ao manifesto realizado na semana passada pela Associação das Siderúrgicas Européias (Eurofer), que reclamava dos percentuais propostos pelas mineradoras.

Para o analista do ABN Amro, Pedro Roberto Galdi, a chiadeira das siderúrgicas européias não surtirá efeito.

- Eles terão de aceitar o reajuste - afirmou. Procurada, a Vale preferiu não se manifestar. As ações preferenciais da mineradora fecharam em alta de 4,37% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).