Título: Rolo compressor acionado
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2005, País, p. A3

Ministros saem de café da manhã na casa de João Paulo Cunha com a missão de caçar votos para Luiz Eduardo Greenhalgh

O PT e o Palácio do Planalto montaram ontem um rolo compressor para garantir, em primeiro turno, a vitória do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato à presidência da Câmara. Os ministros ligados a partidos vão aproveitar o fim de semana para fazer o corpo-a-corpo junto às suas bancadas e garantir votos para o petista. Aldo Rebelo (Coordenação Política), José Dirceu (Casa Civil) e Antônio Palocci (Fazenda) ficaram encarregados de conversar com deputados de várias legendas e até o titular da Agricultura, Roberto Rodrigues, entrou em campo: tentou marcar um encontro de Greenhalgh com a bancada ruralista para a noite de ontem, mas acabou acertando o encontro para segunda-feira.

A demonstração de força não parou por aí. O presidente nacional do PT, José Genoino (SP), vai passar o fim de semana em Brasília conversando com os presidentes de todas as legendas. Sinaliza, inclusive, ''casar'' a eleição da Mesa Diretora da Câmara com a disputa pela presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo, onde o PT é maioria. Pela proposta, os petistas poderiam abrir mão do cargo, em troca do apoio dos tucanos a Greenhalgh em Brasília.

Os líderes da bancada governista também demonstraram coesão. Atendendo a uma sugestão do líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), farão um ato político explícito, na segunda-feira, assinando, em conjunto, a indicação de Greenhalgh como candidato petista oficial à presidência da Câmara.

- São atos políticos para valorizar os princípios da democracia, da hierarquia e da disciplina - resumiu Aldo Rebelo, após café da manhã na residência do atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Aldo tentou desvincular a participação do governo na disputa, alegando que os ministros participaram do café da manhã como integrantes dos seus respectivos partidos e não como membros do governo. Rodrigues, no entanto, admitiu que recebeu a incumbência de trabalhar pela candidatura de Greenhalgh. Durante o café da manhã, todos deixaram claro que deixar a vitória escapar em primeiro turno pode passar a imagem de que o Executivo perdeu o controle do processo.

- A eleição de Greenhalgh vai representar a estabilidade dos partidos, dos líderes e do governo - completou o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

A análise de todos os líderes é pragmática. O regimento interno da Câmara prevê que o maior partido tem o direito de indicar o candidato a presidente da Casa. Candidaturas avulsas são permitidas no regimento, mas são oficiosas. Caso os deputados decidam votar em Virgílio Guimarães (MG), candidato avulso do PT, o princípio da proporcionalidade cairia por terra.

- Se não respeitarmos os princípios políticos, a imagem da Casa ficará péssima - reconheceu o presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP).

Valdemar afirma que a grande vantagem do PT é ser a maior bancada. Todos os partidos têm os seus candidatos oficiais e avulsos aos diversos cargos da Mesa, que precisam dos votos dos petistas para se elegerem. Genoino garantiu que os petistas vão retribuir os votos dos aliados, contemplando os candidatos oficiais de cada legenda.

O líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE) lembrou que o candidato do PT não é, entre os postulantes ao cargo, o mais simpático, mas tem competência para exercer o cargo.

- Como não é concurso de miss simpatia, Greenhalgh é um bom nome - resumiu.

Para Múcio, a convicção do Planalto no apoio a Greenhalgh também foi essencial. Segundo o petebista, no início da campanha o Executivo mandava sinais dúbios, deixando subentendido de que ficaria satisfeito com a vitória de Greenhalgh ou de Virgílio, desde que o cargo ficasse nas mãos de um petista.

- Agora está confirmado, sem subterfúgios ou fantasias, de que Greenhalgh é o candidato oficial - declarou Múcio.

Durante o café da manhã de ontem, Greenhalgh pediu empenho de todos e disse que não quer correr riscos. Pelos cálculos dos líderes, Greenhalgh contabilizaria hoje 255 apoios, descontados os votos do PSDB: PT (82), PTB (30), PMDB (45), PC do B (6), PSB (18), PL (38) , PPS (11) e PP (15). Dos tucanos, os governistas esperam angariar pelo menos entre 10 e 15 votos.

O objetivo é consolidar 280 votos, o que, na avaliação dos ministros, garantiria o triunfo do candidato petista, mesmo com o chamada ''margem de traição'', pelo fato do voto ser secreto.

- Com o trabalho no fim de semana e o gesto político dos líderes, pelo registro da candidatura do Greenhalgh, acreditamos que alcançaremos esse número de 280 ou até mais - afirmou um ministro que participou do café da manhã na residência do presidente João Paulo Cunha.

O empenho dos partidos está intimamente relacionado à reforma ministerial que o presidente Lula pretende deflagrar logo após à eleição na Câmara. O governo deixou claro que o desempenho dos aliados irá pesar na hora de bater o martelo sobre as alterações na Esplanada.