Título: Fraudadores matam seis pessoas
Autor: Bellei, Carolina; Linhares, Janaina
Fonte: Jornal do Brasil, 31/07/2008, País, p. A2

Polícia Federal denuncia ex-diretor do Rio Transplantes e mais quatro médicos, acusados de adulterar a fila de pacientes à espera de um novo fígado

Carolina BelleiJanaina LinharesRaphael Lima

Pelo menos seis pessoas morreram enquanto aguardavam por um transplante de fígado no Hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ, na Ilha do Fundão. Ontem, o médico Joaquim Ribeiro Filho, ex-coordenador do Rio Transplante no governo da Rosinha Garotinho no Estado, foi preso em sua casa, em Laranjeiras, pela Polícia Federal, acusado de ser o chefe do esquema que manipulava a lista dos pacientes que precisavam receber um fígado e dava prioridade às pessoas que pagavam pelo órgão. Outros quatro médicos da equipe dele no Hospital do Fundão também foram denunciados pelo Ministério Publico Federal (MPF), mas irão responder ao processo em liberdade.

¿ Eu denunciei três casos onde pessoas foram beneficiadas, dois chegaram a ser concluídos e um foi tentativa ¿ informou o procurador Marcello Miller, que denunciou os médicos, completando que a Polícia Federal vai investigar novos indícios. ¿ Ainda temos um paciente em que o médico sugeriu o pagamento e teria se negado a realizar a cirurgia caso o valor cobrado fosse negado.

Além do ex-chefe da equipe de transplantes hepáticos do HUCFF, os médicos Eduardo de Souza Martins Fernandes, Giuliano Ancelmo Bento, João Ricardo Ribas e Samanta Teixeira Basto vão responder por peculato (crime de desvio de recursos ou bens por servidor). E segundo a PF, eles também poderão ser indiciados por tráfico de influência, favorecimento pessoal e falso testemunho.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, atualmente, 1077 pessoas aguardam por um transplante de fígado e cerca de 5 pessoas morrem por mês esperando o novo fígado.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, se disse perplexo com o caso e criticou os critérios da atual lista de transplantados:

¿ É preciso regularizar a situação da crise na saúde pública do Rio. Nos últimos 10 anos, houve uma queda acentuada no número de transplantes em função do agravamento desta crise. Precisamos de meios de controle rigoroso e transparente. O sistema tem que estar preparado para evitar "fura-fila".

Um dos pacientes de Joaquim Filho foi o militar reformado Ricardo Pacheco, 68 anos. Ele tinha um tumor no fígado e desde 2004 estava na fila do transplante. Segundo a filha, Márcia Pacheco, Ricardo foi chamado seis vezes para realizar o transplante mas nunca conseguiu:

¿ Alegavam que o fígado estava ruim ou que a família do doador não havia mais liberado o transplante. Na última vez, em março, uma paciente conseguiu uma liminar que concedia o fígado da vez para ela ¿ revelou.

Ricardo Pacheco acabou não resistindo à espera do órgão e faleceu há cerca um mês.